Análise: com Paulo Sousa elétrico à beira do campo, Flamengo mostra repertório variado e encurrala rival
Apesar do nível inferior do Boavista, equipe rubro-negra finaliza 20 vezes e só não constrói goleada por preciosismo de seus atacantes
O primeiro ato do Flamengo de Paulo Sousa foi elétrico. O treinador não parou à beira do gramado e por pouco não invadiu para dividir bolas. E o time – misto, diga-se de passagem – esteve na mesma frequência, com muita movimentação e presença quase que ininterrupta no campo adversário. Apesar da fragilidade do rival, ficou escancarado que o Boavista não viu a cor da bola.
Marcação adiantada faz Vitinho sobrar na criação
Com três zagueiros, o Flamengo atacou no 3-4-3 que também pode ser lido como 3-4-2-1 e defendeu no 5-4-1. É bom dizer, porém, que Vitinho, dono do jogo com três assistências, teve menos responsabilidade defensiva e esteve mais solto. Isso se deu também pelo fato de Paulo Sousa ter utilizado marcação bastante adiantada, o que encurralou o Boavista em seu campo de defesa.
Com essa postura, os pontas não precisaram ficar correndo atrás de laterais, como aconteceu bastante no ano passado.
Quando tentava sair, o time de Leandrão já parava na penúltima linha do Flamengo. Vitinho e Marinho davam os primeiros combates. Foi assim que nasceu o primeiro gol. O camisa 11 roubou bola e cruzou rasteiro para o estreante marcar e rapidamente cair nas graças da torcida.
Frenético, Marinho ganha a torcida desde o início
Se Vitinho sobrou como principal organizador do time, Marinho foi o termômetro do frenético Flamengo. Teve o nome gritado pela torcida no primeiro minuto, ao partir para cima da marcação e sofrer falta. Mexeu-se da direita para a esquerda, finalizou cinco vezes (o vice-líder do time no quesito) e assumiu as cobranças de falta e escanteios. Aliás, foi ovacionado algumas vezes quando esteve na bandeirinha para batê-los.
Volantes ligados, e zagueiros participativos
Como dito antes, o Flamengo mandou no jogo, mas também é preciso destacar a importância dos volantes. Incansáveis na marcação e jogadores que mais foram chamados por Paulo Sousa para conversas à beira do gramado, João Gomes e Thiago Maia foram importantes no combate, participativos na construção e acabaram deixando alas e pontas com mais liberdade para fazer investidas pelo fundo.
Se sobra bola para o Flamengo trocar passes curtos e chegar ao gol adversário com tabelas, Paulo Sousa também mostrou repertório variado ao estimular seus zagueiros a lançarem. Noga participou muito da construção do jogo. No início, deu lindo passe longo para Matheuzinho. Foi o jogador que mais tocou na bola, com 69 passes (apenas dois errados).
Cleiton e Gustavo Henrique também fizeram uso do expediente, e David Luiz, que entrou no segundo tempo, deu sua contribuição ao olhar para um lado e lançar para o outro em passe perfeito para Everton Ribeiro.
Atacantes perdem chances aos montes
Que o Flamengo amassou o Boavista todo mundo sabe, mas por que não goleou? Talvez pela pontaria pouco afiada de Pedro e Gabigol – o último entrou no segundo tempo. Ambos já poderiam estar bem ranqueados na disputa pela artilharia caso não desperdiçassem ótimas chances.
O camisa 21 perdeu três oportunidades cristalinas antes de marcar o seu, enquanto o 9 mostrou preciosismo em lance no qual tentou driblar o goleiro e depois, livre, tirou demais da trave e mandou para fora. A exemplo do companheiro, foi às redes por estar bem posicionado dentro da área. Cabia mais para ambos.
Área técnica pra que te quero? Paulo Sousa não para à beira do campo em sua estreia
Paulo Sousa não parou durante o jogo todo. A reportagem do ge tinha a visão encoberta do banco, mas a impressão deixada é que não sentou-se em nenhum momento e que só descia para conversar com auxiliares e reservas. No primeiro tempo, conversou muito com Thiago Maia e João Gomes. Na parada técnica, tornou a dar atenção especial aos volantes e bateu papo com Pedro e os laterais.
– O Gomes fez um jogo extraordinário, com mais dinamismo do que contra o Volta Redonda. Os 45 minutos que ele jogou contra o Volta Redonda, mesmo não perdendo a bola, teve pouco dinamismo. Hoje esteve muito bem na organização defensiva e ofensiva. Disse para perceber os espaços. Às vezes ele se aproxima muito da bola e tira espaço dos companheiros. O Arão, pedi para dar mais equilíbrio. Os que entraram estavam muitas vezes na mesma linha, daí a importância do equilíbrio – explicou Paulo.
Na etapa final, o técnico mais uma vez mostrou variação de jogo ao apostar em Everton Ribeiro como ala pela esquerda. Por ali, o camisa 7 achou ótimos passes. Depois, colocou Rodinei no setor e passou Ribeiro para a ponta direita. O selecionável continuou bem e mostrou entrosamento com Matheuzinho.
– O Everton é muito inteligente, conhece os espaços, é taticamente evoluído, dá ritmo, tem 1 contra 1. Naquele momento, e também para o futuro, a ideia é utilizá-lo em várias posições. Uma delas é essa. Estava na seleção e não treinou. Minha decisão foi mais linear no corredor esquerdo. Na parte final, em uma parte que ele já conhece como ninguém (lado direito) – afirmou o comandante.
Botes à beira do campo e sem tempo para celebrar gol
No segundo tempo, com o Flamengo atacando para o banco do português, foi possível observar com maior detalhamento o quanto inquieto ele estava. Área técnica e nada eram a mesma coisa. Aos sete minutos, Matheuzinho desligou-se em jogada pela ponta-direita e perdeu bola fácil em jogada com Gabigol. Paulo por pouco não entrou em campo e deu um bote na linha lateral. Na sequência, Thiago Maia recuperou com um carrinho, e o comandante aplaudiu bastante.
De tão concentrado que estava, nem se preocupou em comemorar o gol de Pedro. Aliás, gol muito bem construído. Cleiton iniciou a jogada, Everton Ribeiro deu passe de craque para Vitinho, que cruzou na medida para o centroavante. Quando Pedro finalizou, Paulo já orientava David Luiz e Willian Arão, que estavam prontos para entrar em campo.
Gabigol perdeu chances incríveis na etapa final, mas também recebeu palminhas de Paulo em dois combates que deu à beira do campo. Na última delas, ao ver o atacante livre, o português tentou dar um bote no gandula para jogar nas mãos do pupilo, mas não teve sucesso.
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Fonte: Por Fred Gomes do ge