Após atingir recorde, transmissão de Covid-19 começa a desacelerar na cidade de SP
Apesar da melhora, pesquisador afirma que casos ainda estão em alta e pressão no sistema de saúde deve continuar nas próximas semanas.
Por Marina Pinhoni e Patrícia Figueiredo, g1 SP — São Paulo
01/02/2022 06h00 Atualizado há 3 horas
Após atingir o maior valor desde o início da pandemia na semana passada, a taxa de transmissão de Covid-19 começou a desacelerar na cidade de São Paulo, segundo análise de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Estadual Paulista (Unesp) feita por meio da ferramenta Info Tracker, que calcula a evolução da pandemia nos municípios que concentram mais casos e mortes por coronavírus no estado.
Apesar da melhora no indicador, especialista afirma que os novos casos ainda devem crescer nos próximos dias, embora em ritmo menor, e que a pressão no sistema de saúde deve continuar intensa nas próximas semanas devido ao avanço da variante ômicron.
Nesta segunda-feira (31), a taxa de transmissão é de 1,80 na capital paulista. O valor é menor do que o registrado no sábado (29), de 1,81. Com base nos dados atuais, os pesquisadores projetam que a taxa deve cair para 1,79 até esta quinta (3 de fevereiro).
Simbolizado pela sigla RT, o “ritmo de contágio” é um número que traduz o potencial de propagação de uma doença: quando ele é superior a 1, cada infectado transmite para mais de uma pessoa, e a doença avança. Quando é menor do que 1, a contaminação recua.
Na prática, a taxa de 1,8 significa que cada 100 pessoas infectadas transmitem o vírus para outras 180.
Na semana passada, quando a capital atingiu o pior valor de RT desde o início da pandemia, a tendência era de aceleração. Mas, segundo o professor da Unesp e coordenador do Info Tracker, Wallace Casaca, a taxa de contágio se estabilizou nos últimos três dias.
“A gente observa uma estabilidade em relação ao índice. Ele parou de acelerar e agora está em uma leve tendência de início de declínio. Se continuar como está, em duas ou três semanas já poderá apresentar redução significativa no número de novos casos”, diz Casaca.
A desaceleração da taxa não implica, no entanto, uma queda imediata de novos casos e mortes. Para o pesquisador, o pico de mortes provocadas pela variante ômicron em São Paulo deve ocorrer em fevereiro.
“A taxa ainda está acima de 1, e isso significa que ainda teremos uma explosão de novos casos. As duas próximas semanas ainda serão bem duras de pressão para o sistema de saúde. Os óbitos também estão aumentando. O pico de mortes da ômicron em São Paulo deve ser em fevereiro.”
O pesquisador alerta que a projeção é feita com base nas informações disponíveis no momento e que mudanças de políticas públicas e no comportamento da população podem afetar diretamente a evolução da taxa.
“São cenários de acordo com os parâmetros que temos hoje. Se as pessoas começarem a não usar máscaras, se cair o ritmo da vacinação, se festas de grande porte forem liberadas, isso pode causar uma distorção dos dados. Por outro lado, se os governos resolvessem endurecer um pouco mais as medidas de restrição, também ajudaria a ter um recrudescimento mais rápido.”
Segundo Casaca, ainda é cedo para dizer com certeza que o pior momento da ômicron na cidade já passou, uma vez que há limitação de testagem da população. No dia 15 de janeiro, a Secretaria Municipal da Saúde passou a orientar as unidades de saúde a testar para Covid-19, prioritariamente, as pessoas do grupo de risco da doença.
Para o público geral, a orientação é para que os médicos façam o diagnóstico de forma clínica, ou seja, avaliando os sintomas sem o auxílio do exame laboratorial. Esta nova política pode ter afetado os dados de novos casos na capital.