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Bruno e Dom: Viúva de indigenista volta ao Vale do Javari em megaoperação contra invasores. ‘Continuo a missão dele’

Beatriz Matos assumiu cargo de diretora do Departamento de Proteção Territorial e de Povos Indígenas Isolados; ação conta com militares das Forças Armadas, PF, Ibama, MPF e Funai e não tem data para acabar

Por Daniel Biasetto — Rio de Janeiro

27/02/2023 03h00  Atualizado 27/02/2023

Viúva do indigenista Bruno Pereira, a antropóloga Beatriz Matos volta nesta segunda-feira ao Vale do Javari pela primeira vez desde que o marido e o jornalista britânico Dom Phillips foram executados durante uma emboscada no rio Itacoaí, há nove meses. O retorno de Beatriz à região marca também a sua primeira tarefa como diretora do departamento de proteção territorial de povos isolados vinculado ao novo ministério indígena. Ela estará hoje entre as autoridades que darão início à megaoperação contra invasores do território, se diz emocionada com a oportunidade e ressalta que essa missão é uma continuidade do trabalho do marido, quem conheceu no mesmo local.

— Essas mortes do Bruno e do Dom levaram a uma insegurança extrema para eles (indígenas e servidores), que se perguntam: ‘se fizeram isso com o Bruno, que era um branco, que trabalha na Funai, o que não farão com a gente?’ Então acho que é importante fazer uma demonstração de força para dizer para a bandidagem que essa questão é muito séria e o governo está de olho — diz ao GLOBO.

Beatriz afirma que a sua nomeação para o cargo é fruto e continuidade do trabalho de Bruno.

— Eu ocupar esse cargo é sim uma continuidade do trabalho do Bruno e dessas outras pessoas que compõem o OPI (Observatório de Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato) é o nosso trabalho junto, um trabalho coletivo. O fato de eu estar no Ministério é por causa desse coletivo de pessoas muito comprometidas , muito experientes nessa questão (dos indígenas isolados). Então eu me vejo como uma representante desse trabalho, devemos tudo ao trabalho do Bruno, sem a menor dúvida.

Beatriz sabe que em diversos momentos terá que dividir a atenção do trabalho com a enorme quantidade de pessoas com quem ainda não teve tempo de conversar e chorar a morte de Bruno.

— Vai ser uma situação muito emocionante, eu trabalho no Javari desde 2004, onde praticamente comecei minhas pesquisas. Trabalhei com um monte de indígenas por lá , de etnias diferentes, tenho amigos mesmo, pessoas que são muito importantes na minha vida e que ainda não nos falamos desde a morte do Bruno. Então tenho certeza que vai ter muita gente que vai chorar comigo, que vai fazer luto, homenagens e que vai querer falar comigo. Acho que vai ser muito emocionante. Eu sei que vai ser rápido porque não poderei ficar mais de um dia, mas intenso — conta.

O servidor da Funai, Bruno Araújo Pereira, desaparecido no Vale do Javari, na Amazônia. vinha recebendo ameaças de invasores — Foto:  Daniel Marenco /O Globo

O servidor da Funai, Bruno Araújo Pereira, desaparecido no Vale do Javari, na Amazônia. vinha recebendo ameaças de invasores — Foto: Daniel Marenco /O Globo

A antropóloga diz que voltará ao Javari para encerrar o ciclo de rituais sobre a morte do marido.

— Certamente os indígenas vão querer chorar o Bruno comigo, com seus rituais e eu preciso fazer isso em algum momento, não vai ser agora. Vai ser uma comoção muito grande, com certeza muito forte e importante também porque será uma demonstração de que aquilo não vai acontecer mais, esperamos. E que a partir de agora eles vão ter apoio do Estado e ter mais segurança, não serão mais ameaçados, porque as ameaças e invasões continuam.

Ação terá ministros de Estado e embaixadora do Reino Unido

Militares em voadeira tentam localizar indícios de paradeiro de servidor da Funai Bruno Araújo Pereira e de jornalista Dom Phillips  — Foto: Divulgação/Exército

Militares em voadeira tentam localizar indícios de paradeiro de servidor da Funai Bruno Araújo Pereira e de jornalista Dom Phillips — Foto: Divulgação/Exército

Passados mais de oito meses dos assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips, o Vale do Javari, no Amazonas, voltará a ser palco de uma megaoperação das forças de segurança com o objetivo de coibir a prática criminosa de invasores que atuam na caça, pesca e garimpo ilegais no território que abriga a maior quantidade de indígenas isolados do mundo. As ações de logística serão coordenadas pelo Ministério da Defesa com apoio das pastas da Justiça, dos Povos Indígenas e dos Direitos Humanos, além da Polícia Federal, Ibama, Funai e Sesai.

Os agentes vão desembarcar em Atalaia do Norte (AM) na manhã desta segunda-feira, por volta das 8h (duas horas a menos de Brasília). Militares da Marinha já estão no local. As ações serão discutidas na sede da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja).

O GLOBO apurou que o primeiro dia da missão deve contar com as presenças dos ministros Flávio Dino (Justiça) e Sonia Guajajara (Povos Indígenas). Silvio Almeida (Direitos Humanos) deve enviar um representante. A presidente da Funai, Joênia Wapichana, e o secretário de Saúde Indígena (Sesai), Ricardo Weibe Tapeba, também vão acompanhar a operação, assim como procuradores do Ministério Público Federal (MPF). O governador do Amazonas Wilson Lima também estará em comitiva. Outra presença confirmada é a da embaixadora da Inglaterra no Brasil, Stephanie Al-Qaq.

Fonte: Daniel Biasetto — Rio de Janeiro

https://oglobo.globo.com/brasil/noticia/2023/02/bruno-e-dom-viuva-de-indigenista-volta-ao-vale-do-javari-em-megaoperacao-contra-invasores-continuo-a-missao-dele.ghtml?utm_source=globo.com&utm_medium=oglobo