Conheça o “meteoro” Eguinaldo, que saiu da várzea no Maranhão para ser artilheiro na base do Vasco
Descoberto pelo Artsul, atacante de 17 anos enfileira gols no sub-20 e se apresenta nesta terça à Granja para treinar com a seleção. Ele perdeu o pai no início do ano e quase não voltou ao Rio
Por Tébaro Schmidt — Rio de Janeiro
31/05/2022 04h00 Atualizado há 5 horas
No topo da artilharia do Campeonato Carioca Sub-20, o Vasco é representado por um garoto de 17 anos que até o ano passado jogava futebol de várzea no interior do Maranhão. E que, nesta terça-feira, se apresenta na Granja Comary para um período de treinos com a Seleção de Ramon Menezes. Afinal, quem é Eguinaldo?
Antes de mais nada, um “meteoro”.
Eguinaldo recebeu neste fim de semana a notícia de que foi convidado para participar dos treinamentos da seleção brasileira sub-20, que disputa agora em julho, no Espírito Santo, um quadrangular preparatório para o Sul-Americano. Natural de Monção, no nordeste maranhense, ele vai ficar os próximos dias em Teresópolis.
Embora não se trate de uma convocação oficial, o convite tem a ver com o grande momento que o atacante vive na base do Vasco. Eguinaldo tem nove gols e três assistências em nove jogos disputados até aqui no Campeonato Carioca Sub-20. É o principal destaque da equipe que lidera com folga a tabela e está a um empate de conquistar o título do primeiro turno.
– Para mim tudo isso tem sido muito gratificante – contou ele, ainda sem jeito para entrevistas, em bate-papo com o ge (veja gols de Eguinaldo e trechos da entrevista no vídeo acima).
– Agradeço muito a Deus por tudo que estou vivendo aqui, é fruto de muito trabalho. Lá na minha cidade tem muito vascaíno também torcendo por mim, em breve estarei no profissional dando alegria para eles como estou fazendo aqui, com assistências e gols – acrescentou.
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Descoberto no ano passado pelo Artsul, clube de Nova Iguaçu, Eguinaldo no momento está emprestado ao Vasco, que tem por contrato a opção de adquirir 70% dos direitos do atacante.
Ele também passou como um furacão pelo Artsul: foi puxado para o time principal depois de dois meses no sub-20, fez gol e cativou uma vaga entre os profissionais. Isso aos 17 anos e recém-chegado da várzea, vale lembrar.
– A gente achou que, apesar de queimar etapa, o garoto estava muito bem e resolvemos dar uma oportunidade para ele. Ele é realmente muito forte, de muito boa técnica, ataca bem os espaços e tem uma qualidade de finalização bem impressionante para a idade – conta Rogério Pina, técnico de Eguinaldo no Artsul.
“Ele é um meteoro, muito fora da curva”, completou.
Trabalho na roça, futebol aos fins de semana
Nascido e crescido na zona rural, Eguinaldo aprendeu desde pequeno a trabalhar na roça com os pais, que plantam milho, mandioca e têm algumas cabeças de gado em Monção. A vida nos dias de semana sempre se resumiu aos estudos e ao trabalho braçal com a família. “Eu ajudava eles, capinando, colhendo…”, conta o atacante do Vasco.
A história era outra nos finais de semana. Aos sábados e domingos, Eguinaldo jogava bola na várzea. Rodou a cidade-natal e as regiões ao redor disputando campeonatos. Às vezes valendo R$ 100, outras vezes valendo uma chuteira, na maioria das vezes de graça mesmo.
Eguinaldo queria ser jogador e teve todo o apoio da família quando a oportunidade surgiu, embora, claro, tivesse que sair da roça e viver longe dos pais. Edinaldo, o pai, morreu em fevereiro deste ano vítima de um ataque cardíaco e não chegou a ver o deslanchar do filho na base de um dos maiores clubes do Brasil.
Quando recebeu a notícia, o atacante estava em São Luís, onde embarcaria no dia seguinte com destino ao Rio de Janeiro para se reapresentar. Ele quase não voltou.
– Eu estava no domingo na capital e viajava para cá na segunda. No domingo à noite minha tia me ligou chorando, aí meu mundo desabou. Pensei em desistir, não queria mais voltar para cá, estava tudo sem sentido para mim. Não queria mais jogar – contou ele.
– Eu voltei para o enterro do meu pai, passei uma semana lá junto com a minha família, pensando bem. E decidi voltar para o Rio. Desde então minha família está me apoiando para continuar. E meus amigos também – completou.
O “meteoro”
Descoberto nos campos de terrão maranhenses por um olheiro dos irmãos Maurício Nassif e Daniel Nassif, os mesmos responsáveis por levar Anderson Conceição para o Vasco, por exemplo, Eguinaldo foi levado para um período de avaliações no Artsul no início do ano passado. Passou, ganhou um contrato de formação e começou a jogar pelo sub-20.
Com apenas dois meses na categoria, em função do destaque principalmente nos treinamentos, Eguinaldo foi puxado ao time profissional pela comissão técnica de Rogério Pina, que tinha como objetivo inicial lapidar a joia bruta que havia acabado de chegar ao clube, sem qualquer experiência de formação.
Fonte: Tébaro Schmidt — Rio de Janeiro