Covid-19: Governo não compra vacinas e já faltam doses a crianças de 3 e 4 anos
Levantamento do GLOBO mostra que ao menos Rio, Brasília, 11 municípios do Rio Grande do Norte e Itapira (SP) suspenderam a aplicação da primeira dose nesse público
Por Melissa Duarte — Brasília
15/08/2022 04h31 Atualizado há 25 minutos
Um mês após o Ministério da Saúde autorizar a aplicação de CoronaVac em crianças a partir de 3 anos, a pasta ainda não fechou contrato para comprar as vacinas contra a Covid-19 para o público infantil. E, sem imunizantes, ao menos Rio, Brasília, 11 municípios do Rio Grande do Norte e Itapira (SP) suspenderam a aplicação da primeira dose nesse público, indica levantamento do GLOBO. Já na Bahia, só 194 dos 417 municípios — menos da metade — registram aplicação do imunizante na faixa etária. Estados reclamam de falta de doses.
- Tom Holland se afastará das redes: Entenda como mídias sociais podem fazer um estrago à saúde mental
- Resposta à varíola dos macacos: Moraes, do STF, será relator de ação que cobra plano de ação do governo
Nesse cenário, a vacinação do grupo ainda não engrenou, passado um mês. Números do LocalizaSUS, do Ministério da Saúde, mostram que 261.611 crianças de 3 e 4 anos receberam a primeira dose até a última sexta-feira no Brasil, das quais 3.168 completaram a vacinação com a segunda dose. O número de crianças que iniciaram a imunização representa apenas 4,67% da população estimada.
A falta de doses está espalhada. Os estados Espírito Santo e Pernambuco remanejaram doses de CoronaVac entre os municípios para imunizar a faixa etária e não interromper a aplicação. Ceará, por sua vez, disse que distribuiu apenas 10% dos imunizantes necessários para o grupo. Já o Maranhão informou que está com estoque insuficiente e pediu 400 mil doses à pasta. Das 27 unidades federativas consultadas pela reportagem, só Pará e Roraima responderam que dispõem de vacinas suficientes para atender a demanda.
- Mito ou verdade: Beber em pé reduz a sensação de embriaguez?
Ministério não informa
Ao GLOBO, o Ministério da Saúde informou em nota que ainda “está em tratativas para aquisição do imunizante com maior celeridade, de acordo com a disponibilidade de entrega das doses pelos fornecedores”, sem informar detalhes. E, mesmo sem ter efetivado a compra, a pasta prevê receber os imunizantes a partir de setembro, mas não divulgou sequer a quantidade de doses a serem adquiridas.
A Saúde liberou a vacinação deste grupo em 15 de julho. No dia 25, o titular da pasta, Marcelo Queiroga, anunciou que o ministério iria adquirir as doses necessárias por meio do consórcio global Covax Facility, gerenciado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A pasta, assim, preteriu o Instituto Butantan, que fabrica os imunizantes no Brasil e já se preparou para atender a esta faixa etária.
- Bala de prata contra insônia: Oxford elege o melhor remédio para problemas do sono
— O ministério deu uma resposta evasiva sobre o Covax Facility, mas sabemos que o consórcio não tem vacinas para oferecer na quantidade necessária para as crianças brasileiras. Nós temos o Butantan, mas o ministério não se mexe — afirma o vice-presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e sanitarista da Fiocruz Brasília, Claudio Maierovitch.
Fabricante da CoronaVac no Brasil, o Instituto Butantan informou que poderia entregar vacinas à pasta para as crianças a partir do próximo mês. Ainda não há, porém, pedidos ou negociações em andamento.O Butantan importou o Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA), insumo essencial para produzir o imunizante, a fim de atender toda a faixa etária: como há cerca de 5,6 milhões de crianças de 3 e 4 anos no Brasil, seriam necessárias cerca de 11 milhões de doses, pois o ciclo contempla duas aplicações no intervalo de 28 dias.
“O Butantan dialoga constantemente com o Ministério da Saúde e aguarda posicionamento oficial da pasta sobre as ofertas da vacina CoronaVac ao Programa Nacional de Imunizações (PNI)”, diz em nota.
- Pensar demais cansa? Novo estudo mostra que hábito provoca efeito de intoxicação no cérebro; entenda
Dados do Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe (SIVEP-Gripe), mostram que 4.415 crianças foram internadas por Covid-19 no Brasil, das quais 136 morreram de 26 de fevereiro de 2020 — data do primeiro caso registrado no país — a 31 de julho deste ano. As estatísticas, que são as mais recentes disponíveis, foram extraídas pela Rede Análise Covid-19.
Inação do governo
No estudo “Government Inaction on COVID-19 Vaccines contributes to the Persistence of Childism in Brazil”, publicado na The Lancet, pesquisadores brasileiros criticam que a inação do governo federal no vacinação contra a Covid-19 tem afetado especialmente as crianças.
— O país está patinando na ampliação da vacinação em crianças. Não há realização, de fato, de campanhas de vacinação que mobilizam a sociedade. É algo inadmissível — diz a epidemiologista da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Alexandra Boing, uma das autoras do trabalho.
- Alzheimer e demência: Duas décadas de estudos mostram como a privação de sono afeta o cérebro
Maierovitch, da Abrasco, vê o governo ainda resistente à vacinação infantil, que foi explicitada quando o presidente Jair Bolsonaro defendeu divulgar os nomes dos diretores da Anvisa que permitiram a imunização do grupo:
— O que mudou é a aparência: acho que o governo achou arriscado fazer declarações tão enfáticas quanto naquela época no período eleitoral, pois isso poderia roubar votos.
Comentários 2
https://oglobo.comentarios.globo.com/embed/stream?storyID=multi-content%2Fc97ab5d5-67e9-4af9-9992-cc1bf12ad843&storyURL=https%3A%2F%2Foglobo.globo.com%2Fsaude%2Fnoticia%2F2022%2F08%2Fcovid-19-governo-nao-compra-vacinas-e-ja-faltam-doses-a-criancas-de-3-e-4-anos.ghtml&storyMode=COMMENTS&customCSSURL=https%3A%2F%2Fs3.glbimg.com%2Fv1%2FAUTH_c5dfc0eef7ee40d68bdd0993be881440%2Fcoral-custom-style%2Fstyle.css&v=6.7.1&ts=1660563900000&initialWidth=648&childId=boxComentarios__body&parentTitle=Covid-19%3A%20Governo%20n%C3%A3o%20compra%20vacinas%20e%20j%C3%A1%20faltam%20doses%20a%20crian%C3%A7as%20de%203%20e%204%20anos%20%7C%20Sa%C3%BAde%20%7C%20O%20Globo&parentUrl=https%3A%2F%2Foglobo.globo.com%2Fsaude%2Fnoticia%2F2022%2F08%2Fcovid-19-governo-nao-compra-vacinas-e-ja-faltam-doses-a-criancas-de-3-e-4-anos.ghtml%3Futm_source%3Dglobo.com%26utm_medium%3Doglobo
Mais do Globo
Policial bêbado perde documentos de investigação com dados de 400 pessoas no Japão
Agente saiu para beber com colegas de trabalho e perdeu pasta após dormir no trem
AgoraMundo
À época de férias na Itália, Mariah Carey teve a casa assaltada por criminosos em Atlanta
Polícia da região segue investigando detalhes do caso; Cantora não se pronunciou

Há 11 minutosGente
Movimento ‘Sleeping Giants’ pede condenação de Sikêra Jr. por má-fé

Há 20 minutosLauro Jardim
‘Tudo saía da cabeça do Gabriel’, diz ex-assessor sobre ‘experimentos sociais’ sem base científica
Em depoimento ao Conselho de Ética, vereador alegou não ver crime em forjar vídeos oferecendo dinheiro

Há 20 minutosRio
MP do vale-refeição gera disputa entre gigantes e novatas no setor, como iFood. Entenda
Com mudanças, trabalhador poderá escolher qual benefício usar, e estabelecimentos que aceitam tíquete serão obrigados a aceitar todas as bandeiras

Há 25 minutosNegócios
Campeão olímpico, Diego Carlos rompe o tendão de Aquiles e precisará de cirurgia
Zagueiro recém chegado ao Aston Villa se machucou no confronto contra o Everton no último sábado

Há 30 minutosFutebol
Jovem é encontrado morto após festa em Curitiba (PR)
Phelipe Francisco Lourenço, de 24 anos, estava num evento universitário na Pedreira Paulo Leminski

Há 31 minutosBrasil
Em depoimento ao Conselho de Ética, mãe de menina que viralizou em redes sociais com vaquinha virtual deu versão diferente ao que político declarava

Há 35 minutosRio
© 1996 – 2022. Todos direitos reservados a Editora Globo S/A. Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem autorização.
Fonte: Melissa Duarte — Brasília