Crise na França a dois meses da Copa do Mundo expõe dificuldade de título seguido
Última vez que uma seleção venceu o Mundial duas vezes em sequência foi em 1962, com o Brasil; obstáculos vão desde a troca de gerações à falta de foco para permanência no topo
Por Bruno Marinho — Rio de Janeiro
27/09/2022 04h00 Atualizado há 5 horas
Os resultados da França no ano em que tentará seu terceiro título mundial, o segundo consecutivo, não são exatamente animadores: venceu dois amistosos, contra África do Sul e Costa do Marfim, bateu a Áustria, mas quando encarou duas seleções também classificadas para a Copa do Catar, fracassou: perdeu e empatou as duas partidas que disputou contra Dinamarca e Croácia, na Liga das Nações.
Fora de campo, o ambiente também não é o ideal, com o atrito entre Mbappé e a Federação Francesa de Futebol. O camisa 10, logo o principal jogador da equipe, se recusou a participar de uma sessão de fotos de um dos patrocinadores por não concordar com o valor pago de direito de imagem aos jogadores. Segundo o atacante, a recusa representou um descontentamento do grupo, não apenas do próprio.
As oscilações da França a dois meses da Copa lembram como é difícil uma seleção conseguir vencer duas edições seguidas do torneio. Ao longo da história, apenas duas vezes isso ocorreu. A primeira, em 1934 e 1938, com a Itália. A última, em 1958 e 1962, com a seleção brasileira.
A principal causa para isso é geracional, via de regra. Quatro anos separam as competições. Dependendo da idade dos campeões, eles se despedem da seleção depois do título. O Brasil de 1970, provavelmente o maior time de todos os tempos, teve apenas três titulares na estreia em 1974 — Piazza, Jairzinho e Rivellino.
— Já o Brasil de 1958 e 1962 é praticamente o mesmo, Pelé se lesionou e entrou o Amarildo — lembra o jornalista Lycio Vellozo Ribas, autor de “O Livro de Ouro das Copas”, que conta a história dos Mundiais, de 1930 a 2018.
Além do camisa 10, a dupla de zaga do Brasil mudou de uma Copa para outra. De resto a equipe era a mesma. No caso da França que vai ao Catar, a manutenção da base campeã também deve se repetir. Matuidi é a principal baixa em relação a 2018. No mais, o time é praticamente o mesmo, com a volta de Benzema, candidato ao prêmio de melhor do mundo, afastado da seleção quatro anos atrás.
Mas isso não é garantia de resultado. A Espanha que revolucionou o futebol com o “tikitaka” em 2010 levou 16 dos 23 jogadores campeões para a Copa seguinte, além de ter mantido Vicente del Bosque como técnico. Foi eliminada ainda na primeira fase no Brasil, resultado que expôs a decadência técnica de alguns nomes fundamentais do time — o principal deles, Xavi.
— Quando você é o atual campeão, é normal a seleção entrar mais estudada pelos adversários — ressalta Vellozo Ribas.
Na Copa passada, quem decepcionou foi a Alemanha. Chegou à Rússia campeã, marcada positivamente pelo 7 a 1 aplicado no Brasil, e com uma seleção que mesclava a base de 2014 e mais uma nova safra de jogadores talentosos. Entretanto, foi eliminada em um grupo com Suécia, México e Coreia do Sul.
Neste hiato de 60 anos, duas seleções chegaram perto do bi seguido: Argentina (campeã em 1986 e vice em 1990) e Brasil (campeão em 1994 e vice em 1998) . A geração de 2002 deu esperanças de que conseguiria. Porém, caiu ainda nas quartas de final. Entrou para a história a ideia de que faltou tesão para os então campeões manterem o título.
Fonte: Bruno Marinho — Rio de Janeiro