fbpx

Menu

Site desenvolvido por Ligado na Net :

Decisivo no Palmeiras, Merentiel se desprendeu das origens para dar o salto que seu pai não conseguiu

Filho de lenda do interior, atacante uruguaio do Verdão deixou sua Paysandú natal por sonho na elite do futebol e teve participação decisiva na vitória alviverde em cima do Santos

Por Bruno Rodrigues — São Paulo

20/09/2022 04h01  Atualizado há uma hora

Aos 61 anos, Adolfo Micheli, ex-jogador e roupeiro, já não trabalha com futebol. No entanto, as lembranças do que viveu no Bella Vista, clube da cidade de Paysandú, interior do Uruguai, ele não esquece.

Como quando trabalhava na rouparia e via o pequeno Miguel Merentiel, herói do Palmeiras na vitória sobre o Santos, no último domingo, pelo Brasileirão, descendo das arquibancadas para bater bola no gramado do estádio Parque Artigas após os treinos da equipe principal.

“Miguelito”, como chamavam o hoje atacante do Palmeiras, não era uma criança qualquer naquele ambiente. Seu pai, Julio Merentiel, foi um jogador importante do Bella Vista nas décadas de 1990 e 2000, quando a instituição, amadora em quase toda a sua história, viveu uma breve experiência no futebol profissional.

Quem viu Julio jogar diz que se tratava de um craque.

– Tinha um computador na cabeça, era muito habilidoso. E na hora de definir… como posso dizer? Para definir era como o Romário – contou Micheli, com certo exagero, em entrevista ao ge.

– Futebolisticamente era um espetáculo vê-lo jogar. Dotado de boas condições técnicas, sabia se colocar na área – afirmou de forma menos superlativa o radialista Néstor Vanzini, que cobre o futebol de Paysandú há mais de quatro décadas.

Talento do futebol interiorano uruguaio, Julio Merentiel chamou a atenção de olheiros do Nacional quando tinha 15 anos. O clube, um dos dois grandes do país, chamou-o para que completasse sua formação nas categorias de base da agremiação.

Significava a oportunidade não só de, quem sabe, tornar-se atleta profissional, mas de defender uma das mais tradicionais camisas do continente.

A saudade de casa, contudo, falou mais alto. Depois de apenas algumas semanas de treinos na capital, ele fez uma visita à família e decidiu que não subiria mais no ônibus para Montevidéu.

– Quando jogava nos juvenis do Bella Vista e também na seleção juvenil de Paysandú, teve a possibilidade de ir ao Nacional. Ele foi, mas não permaneceu por lá. É um homem muito apegado às suas raízes, apegado a Paysandú – disse Vanzini.

De volta à cidade, Julio Merentiel fez carreira no Bella Vista, camisa com a qual conquistou títulos regionais e disputou jogos da primeira divisão nacional, antes de se aposentar na metade da década de 2000 – em seus últimos anos de atividade, atuou ao lado de Egidio Arévalo Ríos, volante campeão da Copa América com a seleção uruguaia e de breve passagem pelo Botafogo.

Logo após pendurar as chuteiras, viu seu filho iniciar nas categorias infantis do clube.

Adolfo Micheli, roupeiro do Bella Vista e amigo da família, viu qualidades no garoto e sugeriu aos pais de “Miguelito” que ele o acompanhasse nas viagens do time principal. Seu objetivo era fazer com que o garoto não repetisse o destino de Julio, cujo apego às origens havia tirado dele a chance no Nacional.

– Jogávamos em Montevidéu todos os sábados, pela segunda divisão, e Miguel viajava comigo. Eu fazia isso para que ele fosse vivendo o ambiente e entendesse o que era preciso para ser jogador – lembrou Micheli.

Formado na base do Bella Vista, Miguel Merentiel foi convocado – como o pai havia sido em sua época – para defender a seleção de Paysandú.

O Peñarol, clube do coração do garoto, enxergou potencial no jovem atacante e o contratou. “Miguelito” gostava do lugar onde nascera, mas estava disposto a agarrar a oportunidade na cidade grande.

Instalado em Montevidéu, recebia broncas do pai quando a visita à família durava muitos dias. Julio não queria que o filho cogitasse a possibilidade de desistir do sonho na capital.

Formado no Peñarol, Miguel estreou profissionalmente no El Tanque Sisley, em que atuou por empréstimo durante seis meses.

– O Merentiel era um jogador com muito futuro e no Tanque ele encaixou certinho. Time pequeno, precisávamos de alguém que segurasse a bola na frente e tivesse bons movimentos. Ele era solidário até demais, porque corria em todas as bolas que lançávamos – disse o ex-zagueiro brasileiro Anderson Silva, seu companheiro no Tanque Sisley.

Sem chances de continuidade no Peñarol, foi emprestado aos espanhóis Lorca e Mestalla (o time B do Valencia). De volta à América do Sul e já sem contrato com o clube que o formou, defendeu na Argentina o Godoy Cruz e o Defensa y Justicia, onde se destacou, conquistando os títulos da Copa Sul-Americana em 2020 e da Recopa em 2021 – este último, sobre o Palmeiras.

A oportunidade no clube alviverde é a culminação de uma história que passa, de certa forma, pela recusa do pai em viajar a Montevidéu, antes mesmo de Miguel nascer. Graças a Julio e à família, que sempre o incentivaram a fazer o trajeto Paysandú – Montevidéu, e aos amigos, como Adolfo Micheli, o sobrenome Merentiel chegou à elite.

– Eu sou torcedor do Bella Vista até a morte. E torcedor de Miguel. No clube em que ele estiver, torcerei por esse clube. Por isso hoje eu sou Palmeiras – completou Micheli.

Pelo Verdão, a passagem está apenas começando. O clássico contra o Santos foi apenas sua quinta partida com a camisa alviverde, e nele saiu seu segundo gol pelo clube (já havia marcado no empate com o Red Bull Bragantino). 

Depois de um início marcado pela timidez no dia a dia, o camisa 9 alviverde já se sente mais à vontade em meio à busca pelo título brasileiro, que pode ser seu primeiro pelo clube.

– Foi um pouco tímido no início, mas sou assim e tenho um perfil calmo. Estou trabalhando no dia a dia e buscando ajudar a minha equipe. É seguir trabalhando e melhorando para que quando precisem da minha ajuda eu esteja pronto e presente – completou Merentiel.

Fonte: Bruno Rodrigues 

https://ge.globo.com/futebol/times/palmeiras/noticia/2022/09/20/decisivo-no-palmeiras-merentiel-se-desprendeu-das-origens-para-dar-o-salto-que-seu-pai-nao-conseguiu.ghtml