Dia das Mulheres: primeira juíza de futebol, primeira cacique, primeira escritora; veja a história de 8 pioneiras
Com resiliência e coragem para persistir, elas venceram barreiras e são fonte de inspiração. Apesar das vitórias e avanços, reconhecem, porém, que ainda há um longo caminho a ser percorrido.
Por g1 — São Paulo
08/03/2022 00h01 Atualizado há 7 horas
Ser a primeira árbitra de futebol do Brasil numa época em que o esporte era proibido para as mulheres no país. Ou a primeira cacique indígena num ambiente dominado por homens. Ou ainda a primeira bailarina trans do Theatro Municipal de São Paulo.
Para marcar o Dia das Mulheres, celebrado nesta terça-feira, 8 de março, o g1 publica uma série de reportagens com as histórias de oito mulheres pioneiras em diferentes áreas.
Em comum, elas têm resiliência e coragem para persistir e seguir em frente, apesar das adversidades de uma sociedade patriarcal e desigual como a brasileira. Suas conquistas e trajetórias de vida servem de inspiração e exemplo para as gerações seguintes.
No entanto, se por um lado elas conseguiram avançar e provocar transformações, de outro, ainda há um longo caminho pela frente a ser percorrido para a plena igualdade de gênero.
Primeira árbitra feminina de futebol do Brasil, a mineira Lea Campos nasceu numa época em que vigorava no Brasil uma lei que proibia as mulheres de praticarem o esporte.
Isso, porém, nunca a afastou dos campos – nem mesmo nos tempos da ditadura militar. Ela organizava partidas entre grupos de mulheres, chegando até a ser presa por isso. Depois, passou a cobrir jogos como jornalista. Mas gostava mesmo era de apitar. Daí para fazer um curso de arbitragem, foi um pulo.
No entanto, a Federação Mineira de Futebol (FMF) não queria conceder, de jeito nenhum, seu diploma. Lea não se deu por vencida. Conseguiu uma audiência com o então presidente da República, o general Emílio Garrastazu Médici, fã do esporte.
Valendo-se de uma brecha na lei que dizia que as mulheres não podiam praticar o futebol, mas não falava nada sobre apitar partidas, ela o convenceu a determinar que fosse expedido o diploma. A proibição para mulheres jogarem futebol só veio a cair em 1979.
“Era tanta a minha implicância [sobre] por que a mulher não podia jogar futebol, que eu creio que eu influenciei um pouco na liberação do futebol para mulher”, diz Lea.
Nascida em uma família proprietária de terras, Elizabeth Teixeira entrou na luta pelos direitos dos trabalhadores rurais por opção. Embora já se indignasse com as condições de trabalho dos campesinos, foi por meio do marido, João Pedro, filho de lavrador e ativista, que teve contato com a dura realidade.
A história do casal foi retratada no documentário “Cabra marcado para morrer” e ganhou projeção nacional. Após a morte de João Pedro em razão do conflito agrário, Elizabeth assumiu o seu lugar e se tornou a primeira mulher a liderar uma liga camponesa.
Conhecida como Cacique Pequena, Maria de Lourdes da Conceição Alves foi a primeira mulher a se tornar cacique no Brasil. Nomeada para um lugar tradicionalmente ocupado por homens, Pequena rompeu paradigmas ao ser escolhida em 1995 para guiar os caminhos da tribo Jenipapo-Kanindé, em Aquiraz, na região metropolitana de Fortaleza (CE).
De seus quase 77 anos de idade, 27 são dedicados ao comando e à orientação da comunidade. Uma de suas principais conquistas foi a demarcação de terra para o seu povo.
Desde pequena, Márcia Dailyn sabia o que queria: ser artista. Precisou vencer preconceitos e há 26 anos se tornou a primeira bailarina trans do Theatro Municipal de São Paulo.
Aos 22 anos, a publicitária Joana Mendes partiu de Porto Velho para o Rio de Janeiro com um sonho: se tornar diretora de criação em uma agência, posição que não é ocupada com frequência por mulheres negras no Brasil. Hoje, com 36 anos, ela conquistou o cargo e tem ainda no currículo o mérito de ter criado o primeiro e único banco de imagens de mulheres negras do mundo.
Considerada a primeira escritora do Brasil, Maria Firmina dos Reis conseguiu a proeza de ser pioneira em várias frentes mesmo sendo mulher e negra na sociedade brasileira do século 19, marcada pela escravidão e patriarcalismo.
Primeira mulher a se tornar oficial do Corpo de Bombeiros Militar de Alagoas, a tenente-coronel Camila Paiva se destaca também na luta das mulheres da Segurança Pública contra o assédio dentro dos quartéis.
Ana Paula Salles Moura Fernandes trabalha no Centro de Tecnologia em Vacinas e Diagnósticos (CTVacinas) da Universidade Federal de Minas Gerais e coordena a área de diagnóstico de Covid-19 da Rede Vírus do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI).
Integrante de uma equipe à frente dos estudos de uma vacina contra a doença, ela defende maior protagonismo das mulheres na ciência. Em abril de 2021, foi uma das sete vencedoras do prêmio “Mulheres brasileiras que fazem a diferença”, concedido pela embaixada dos Estados Unidos no Brasil.