Formiga do Brasil: a camisa da seleção brasileira será para sempre sua
Jogadora se aposenta da amarelinha, mas nunca da história e da memória do futebol do país
“Não esqueçam: comprometimento com o trabalho sempre. O poder agora está na mão de vocês”
Fomos privilegiados. Por 26 anos, pudemos acompanhar a trajetória de Formiga na seleção brasileira. Da estreia, em abril de 1995 à despedida neste 25 de novembro de 2021. Seu ato final não poderia ter palco mais simbólico: a Arena da Amazônia, onde ali decidiu parar de vestir a amarelinha em dezembro de 2016, mas retornou após um pedido de Vadão. Pois sobre esse gramado, ela desenhou nesta quinta-feira o infinito, que é o legado que deixa para todos nós, seus fãs. Um legado de perseverança, amor, dedicação, exemplo. Por isso, ela tem a autoridade de dizer uma frase em que pede comprometimento de quem fica como disse acima às jogadoras ao final do jogo. Isso, ela sempre teve. O apelido, Formiga, serviu perfeitamente.
A eterna camisa 8 leva consigo também o desejo de Marta, que, de joelhos, pediu que ela seguisse contribuindo com o futebol feminino. Aliás, a rainha fez uma odisseia para chegar a tempo da despedida. Voo atrasado, voo perdido, escalas, chegada no começo do segundo tempo. Os problemas pessoais ficaram temporariamente nos Estados Unidos. O momento era de abraçar sua colega de anos, sua amiga. Assim o fez.
Nas arquibancadas, outra espectadora especial. Dona Celeste, mãe de Formiga, nunca tinha viajado de avião, nunca tinha visto a filha jogar em um estádio. O ato final merecia. Contribuiu tanto para que a filha realizasse seus sonhos, driblou as dificuldades, deu a coragem e apoio à Miraildes, aquela menina. Mas nem todos entendem o quão grande essa mulher se tornou. E parece que Rapinoe entendeu no depoimento que deu em homenagem a ela: “Não sei se as pessoas têm noção de quão incrível você é. Várias pessoas sim, mas a maioria talvez não”.
Acredito que pode passar por aí a decisão de Pia Sundhage de colocar a jogadora depois dos 30 minutos do segundo tempo, quando o mais compreensível e sensível seria deixar Formiga começar jogando. Por mais que a treinadora admire seu trabalho, não entendeu o significado desse dia na história, na nossa história. Na coletiva, a técnica disse que a colocou tão adiante, pois Formiga não está no futuro da seleção e era preciso construí-lo. Mas será que contra a Índia se alcançaria já isso? Não se poderia postergar para os jogos diante de Venezuela e Chile em nome do legado?
Ao final, mesmo com pouco mais de 15 minutos em campo, Formiga nos proporcionou a alegria de ver seu futebol, de quase marcar um gol, de escutar atentamente as orientações táticas dos auxiliares de Pia antes de entrar na partida. Ela nem precisaria. Afinal, estava a poucos minutos de sua aposentadoria da amarelinha. Mas essa é Formiga. Comprometida com o futebol desde sempre. Um mito, Formito. Uma atleta que carrega consigo quase um dicionário de tantas qualidades. Para nós, resta apenas dizer: obrigada ∞.
Fonte: Por Cíntia Barlem, Ge Esportes