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Ianomâmi: Garimpo ilegal cresce 46% na maior destruição em 30 anos de demarcação

Avanço desenfreado da prática em território indígena traz doenças como malária e sífilis, além da fome que assola as aldeias em meio a denúncias de abuso sexual contra crianças

Daniel Biasetto e Bruna Martins*11/04/2022 – 04:30 / Atualizado em 11/04/2022 – 07:58

RIO – O aumento da exploração da Terra Indígena Yanomami pelo garimpo ilegal tem criado um cenário de terror e medo nas mais de 350 comunidades existentes no território, que sofrem com fome, exaustão, doenças  e violência, incluindo abuso sexual de mulheres e crianças em troca de comida, como mostrou O GLOBO neste domingo. Em apenas um ano, a destruição provocada pelos invasores cresceu 46% em relação a 2020,  um incremento  de 1.038 hectares, atingindo um total acumulado de mais de 3 mil campos de futebol devastados, a maior taxa anual desde a demarcação da área, em 1992.

Terror IanomâmiGarimpeiros aliciam mulheres e adolescentes indígenas trocando comida por sexo

Dados do relatório “Yanomami sob ataque – Garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami e propostas para combatê-lo” divulgado pela Hutukara Associação Yanomami, nesta segunda-feira, aponta ainda para uma explosão de casos de malárias, com crescimento de mais de 1.000% em dois anos, em alguma regiões. Outras doenças infectocontagiosas e respiratórias , como a Covid-19 e pneumonia, se unem em “tempestade perfeita” que acaba por levar mais de 60% das crianças ianomâmi a nível crônico de desnutrição infantil.

A pesquisa, que usa informações da plataforma MapBiomas, identificou um crescimento de 3.350% do garimpo nas TIY entre 2016 a 2020. Como justificativa para este percentual, a associação enumera seis causas, das quais cinco estão ligadas a decisões políticas, como a falta de fiscalização e regulamentação no mercado do ouro, a fragilização das políticas ambientais e de proteção dos povos indígenas, agravamento da crise econômica e do desemprego, além do posicionamento do atual governo em incentivar a prática ilegal.

De acordo com gráficos do relatório, a destruição provocada pelo garimpo se acentuou no segundo semestre de 2020. Exaltada por sua importância em termos de proteção da biodiversidade amazônica, a Terra  Yanomami possui 96, 6 mil km² de área, e foi homologada em 1992, pelo ex-presidente Fernando Collor. A população total é de aproximadamente 30 mil indígenas.

— Esse relatório demonstra para a sociedade brasileira e o governo federal  que o garimpo ilegal está sem controle algum e causando problemas reais de fome, violência e mortes — diz o vice-presidente da Associação Hutukara Yanomami, Dário Kopenawa.

Energias sugadas

Além do desmatamento, contaminação da água e assoreamento de rios, o estudo reforça que a atividade ilegal está aumentando a vulnerabilidade dos indígenas, principalmente em relação à insegurança alimentar e aos casos de doenças infectocontagiosas, como a malária e as sexualmente transmissíveis. Ao todo, 237 comunidades são afetadas diretamente pelo garimpo, número que representa cerca de 16 mil pessoas.

Para Paulo Basta, médico da Fiocruz e um dos colaboradores do relatório, os efeitos do garimpo nas comunidades Ianomâmis reforçam um “caos sanitário” não visto desde a década de 1980. Na época, ele explica que havia incentivos governamentais e filantrópicos para controlar a proliferação de doenças nas regiões, principalmente a malária, que é endêmica, mas que, nos últimos anos, a participação dos setores diminuiu ao ponto de os indígenas voltarem ao quadro de risco.

— A malária é endêmica, comum nas regiões da Amazônia Legal. Apesar de ela nunca ter sido controlada, houve momentos de menor registro. Com o garimpo, o número de casos disparou e se intensificou durante a pandemia, tanto porque os postos de saúde ficaram lotados de casos de Covid-19, quanto pelo uso da cloroquina (principal remédio contra a malária) no kit Covid — explicou Paulo Basta.

Fonte: Daniel Biasetto e Bruna Martins

https://oglobo.globo.com/brasil/ianomami-garimpo-ilegal-cresce-46-na-maior-destruicao-em-30-anos-de-demarcacao-2-25468590?utm_source=globo.com&utm_medium=oglobo