Militares e campanha tentam demover Bolsonaro de 7 de Setembro em Copacabana
Militares apontaram dois problemas na transferência do evento no Rio – aparato de segurança complexo e ostensivo viés político partidário
Por Rafael Moraes Moura — Brasília
09/08/2022 04h30 Atualizado há 4 horas
A cúpula das Forças Armadas e o núcleo político da campanha de Jair Bolsonaro têm tentado convencer o presidente a desistir de transferir a parada militar de Sete de Setembro da Avenida Presidente Vargas, no centro do Rio, para a orla da praia de Copacabana.
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Segundo a equipe da coluna apurou com fontes da caserna, o assunto foi discutido na semana passada, no Quartel General do Exército, em Brasília, em reunião do qual participaram o comandante, Marco Antônio Freire Gomes, e oficiais do Alto Comando.
Desde a semana passada, também, os coordenadores da campanha para a reeleição têm sugerido a Bolsonaro que faça seu ato político no próximo dia 7 sem militares e sem ataques às urnas eletrônicas. Walter Braga Netto, o general da reserva que é vice na chapa do presidente, faz parte dessa “força-tarefa” política.
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O presidente já foi alertado de dois riscos considerados sérios pelos militares com a eventual transferência das comemorações no Rio.
O primeiro foi a dificuldade de montar um aparato de segurança eficiente na orla. A questão já havia sido levantada por lideranças do Centrão, que também veem com preocupação a mudança de planos em um prazo tão enxuto.
A preocupação não era apenas com a segurança de Bolsonaro, mas também com a do próprio público durante o evento – já que, ao investir na mistura de uma parada militar tradicional com um ato político, Bolsonaro aumentou o risco de tumultos.
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Em 10 de julho, o tesoureiro do PT de Foz do Iguaçu foi assassinado na festa de seu aniversário, com temática lulista, depois de uma discussão com um militante bolsonarista.
Nesse contexto, a presença de Bolsonaro em Copacabana com seu discurso beligerante de ataques às urnas eletrônicas poderia acirrar os ânimos e provocar descontrole.
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O segundo problema foi o ostensivo viés político-partidário que o evento ganharia na orla de Copacabana, tradicional palco de manifestações a favor de Bolsonaro e das investigações da Lava Jato.
A mistura confere à iniciativa um tom golpista considerado inconveniente pelo núcleo político da campanha à reeleição. Até porque coloca à prova a popularidade de Bolsonaro.
Os próprios líderes do Centrão admitem, nos bastidores, que se a manifestação reunir menos gente do que Bolsonaro juntou na avenida Paulista, no ano passado, já será encarada como fracasso político eleitoral.
“O Exército convenceu o presidente que não seria uma 51 (uma boa ideia, em referência ao slogan da marca de cachaça). Quando ele percebe que a ideia é de jerico, recua”, resumiu um general que acompanha de perto o processo de convencimento do presidente.
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Além da conveniência política e dos riscos relativos à segurança, há ainda uma questão jurídica. A transferência do Sete de Setembro para Copacabana é alvo de uma ação movida pela Rede Sustentabilidade no Supremo Tribunal Federal (STF).
Na semana passada, a relatora do caso, ministra Cármen Lúcia, deu um prazo de 5 dias para o governo Bolsonaro apresentar explicações sobre a mudança.
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Em entrevista à Rádio Guaíba na última terça-feira (2), Bolsonaro se mantinha firme no propósito de seguir com a parada militar em Copacabana.
“A gente vai pedir ao pessoal que botar carro de som, vai ter muita gente em Copacabana, que não use seu carro de som durante aí o desfile, que deve durar em torno de, no máximo uma hora. É tropa das Forças Armadas, Marinha, Exército e Aeronáutica. Polícia Militar, Corpo de Bombeiros Militar. A Academia Militar das Agulhas Negras deve ter um efetivo de um ano desfilando. Colégio militar. Algumas escolas civis lá do Rio de Janeiro”, disse Bolsonaro à emissora.
Mas na sexta-feira (5), prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), anunciou no Twitter que o desfile militar do 7 de setembro será realizado na Avenida Presidente Vargas, no Centro do Rio, “onde o exército organizou e aonde sempre foi feito”.
Bolsonaro nem respondeu e nem comentou as declarações do prefeito – no que foi entendido por aliados do presidente e mesmo no Exército como um sinal de que ele de fato acatou as considerações dos generais.
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Dentro da caserna, a avaliação é a de que a postura da Paes inviabiliza por completo o desfile militar na orla, já que a prefeitura tem papel-chave no planejamento do trânsito, da logística e da segurança do evento.
As comemorações deste ano serão “turbinadas” com a celebração dos 200 anos da Independência do Brasil. E estão sendo vistas por bolsonaristas como um teste de fogo da popularidade do presidente nas ruas, a menos de um mês do primeiro turno, marcado para 2 de outubro.
Fonte:Rafael Moraes Moura — Brasília