Polícia indicia jogadores do Botafogo-SP por violência sexual no RJ; um deles vai responder por estupro
Eduardo Hatamoto vai ser indiciado por estupro; Alexis Lucas Delgado vai responder por dissimulação, que significa posse sexual mediante fraude; e João Diogo Jennings, por injúria e importunação sexual.
Por Leslie Leitão e Mônica Teixeira, RJ2
08/10/2022 Atualizado há 3 horas
A Polícia Civil concluiu, nesta sexta-feira (7), o inquérito contra os três jogadores do Botafogo de Ribeirão Preto acusados de violência sexual contra uma mulher em um hotel no Santo Cristo, na Zona Portuária do Rio, na madrugada de 26 de setembro. O RJ2 teve acesso a imagens obtidas pela polícia, que mostram novo ângulo da movimentação dos jogadores pelo hotel (assista ao vídeo acima).
Os investigados foram indiciados por crimes diferentes:
- Eduardo Hatamoto: estupro;
- Alexis Lucas Delgado: dissimulação, que é posse sexual mediante fraude;
- João Diogo Jennings: injúria e importunação sexual.
Segundo o boletim de ocorrência, a vítima conheceu o jogador Alexis Lucas Delgado em uma boate na Barra da Tijuca, na Zona Oeste. O casal teria combinado de ir para um hotel, no Santo Cristo. Ela teria pedido ao atleta para usar camisinha, mas ele não usou.
O delegado Vinícius Domingos explicou porque Delgado foi enquadrado no crime de dissimulação.
“Quando o homem realiza um ato sexual sem o preservativo, e a mulher assim não o deseja, ou seja, ela foi enganada, ela queria, sim, o ato sexual, mas não queria sem o preservativo. Foi um ato sexual, segundo ela relata, muito rápido. Por isso, quando ela percebeu que ele estava sem camisinha, ela já até tinha terminado o ato sexual”, afirma.
Segundo as investigações, os jogadores João Diogo Jennings e Eduardo Hatamoto teriam entrado no quarto do casal durante a madrugada. Ambos começaram a agarrar a vítima, na tentativa de convencê-la a fazer sexo com eles.
Com a negativa, João Diogo a xingou, e Eduardo Hatamoto – indiciado por estupro – a agrediu com uma mordida no seio.
“O crime de estupro não abarca somente a conjunção carnal, que é o sexo como é amplamente conhecido, ele engloba todos os tipos de atos libidinosos. Ele (Eduardo) ainda progrediu para uma lesão, uma violência no momento em que ela estava se esquivando, o que prova que foi um ato de constrangimento, ele conteve ali a vítima para que ela não resistisse, para que ele conseguisse praticar esse ato libidinoso”, explica o delegado.
João Diogo e Eduardo foram ouvidos na 4ª DP (Praça da República) ao longo da semana e negaram as acusações. Porém, um áudio entre João Diogo e um amigo da vítima comprovou os xingamentos.
“Mano, eu falei com ela alguma coisa, xinguei ela e, depois, mano, eu me deitei na minha cama, mano. Eu xinguei ela? Sim! Mas isso não é um estupro”, afirmou.
Alexis Lucas Delgado teve o contrato rescindido pelo clube, voltou para a Argentina e ainda não prestou depoimento.
Com a conclusão do inquérito, a vítima disse que se sente aliviada.
“Mulher não é objeto, não importa como ela está vestida, onde ela está. Ninguém tem o direito de fazer uma coisa quando ela não quer. A gente denunciando, a gente se sente mais aliviada. Sente que a justiça foi feita e que eles vão responder. E que eles vão aprender com o que fizeram, vão aprender a não repetir, não fazer de novo com outras mulheres”, afirma.
O Botafogo de Ribeirão Preto diz que ainda não foi informado sobre a conclusão das investigações.
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O jogador Eduardo Hatamoto, do Botafogo Futebol Clube de Ribeirão Preto, prestou depoimento na 4ª DP (Praça República) na terça-feira (4).
O depoimento durou mais de duas horas. Na saída, acompanhado de dois advogados, o jogador não quis falar com a imprensa.
Eduardo é um dos jogadores que aparece em imagens de câmeras de segurança do hotel, de calça branca. A vítima disse que o jogador mordeu o seio dela após se recusar a fazer sexo com ele e João Diogo.
Na segunda-feira, João Diogo Jennings, de 23 anos, foi ouvido na mesma delegacia.
Acompanhado dos advogados, o jogador ficou na sede policial por cerca de duas horas e não quis falar com a imprensa.
“Nesse momento, ele não tem nada a declarar. Ele é inocente. Ele está aqui por livre e espontânea vontade para comprovar a inocência dele”, afirmou a advogada Graciele Queiroz.
“Ele não invadiu quarto algum, o quarto 818 era o quarto dele, ele não invadiu, ele estava entrando no quarto dele para dormir, depois de uma festa”, defende a advogada de João Diogo.
A advogada também negou que ele tenha agredido a denunciante.
A investigação segue em sigilo até a conclusão do inquérito.
Jogador argentino voltou para o seu país de origem
O g1 apurou que o jogador argentino Alexis Lucas Delgado, de 27 anos, voltou para a Argentina nos dias seguintes à denúncia. Não há previsão para que ele seja ouvido pela polícia.
Na quarta-feira (28), o atleta teve o contrato rescindido com o Botafogo-SP. Ele é sobrinho de Marcelo Delgado, ex-jogador do Boca Juniors, e ficaria no clube da Série C até novembro.
A Polícia Federal afirmou que não pode comentar a suposta saída de Lucas do Brasil.
Em mensagem enviada à advogada Graciele Queiroz, o jogador argentino negou que tenha saído do país para fugir da Justiça.
“Não cometi nenhum crime. Eu te digo que não fugi de lugar nenhum. Meu contrato foi rescindido, e tive que voltar ao meu país porque não podia ficar sem contrato de trabalho, não teria como me sustentar. Então, decidi voltar com minha família. Até o momento, ninguém me notificou formalmente de nenhum caso contra mim. De forma alguma estou fugindo da Justiça, pelo contrário, estou disponível”, escreveu.
A mulher detalhou a denúncia em entrevista ao RJ2.
Depois de jogar em Resende, no interior do estado, no domingo (25), os jogadores do Botafogo de Ribeirão – time da série C do Campeonato Brasileiro – vieram para o Rio comemorar a vitória em uma boate da Barra da Tijuca, na Zona Oeste.
Foi onde a mulher conheceu um deles: o argentino Alexis Lucas Delgado. Ela concordou em ir para o hotel onde ele estava hospedado, no Santo Cristo, Região Portuária. Ela disse que concordou em fazer sexo com o atleta, mas reclamou de Lucas Delgado não fazer uso de preservativos.
“Consentido até uma parte. Ter relação com ele, não desse jeito, sem camisinha”, disse a mulher.
Por volta das 4h, segundo a denunciante, os outros dois entraram no quarto:
“Os dois entraram. Aí começaram já a querer a passar a mão em mim. Eu falando não, não quero. Não quero. Foi a hora que ele deu uma mordida no meu peito.”
Agentes da 4ª DP acompanharam a vítima para atendimento no Hospital Municipal Souza Aguiar, no Centro, onde ela tomou medicação contraceptiva e contra HIV. Após ser medicada, ela fez exames de corpo de delito no Instituto Médico-Legal.
Os funcionários do hotel já prestaram depoimento e a polícia solicitou as imagens de câmeras de segurança.
O Botafogo divulgou uma nota sobre o caso no dia em que as primeiras reportagens sobre o caso foram publicadas. Leia abaixo.
Nota do Botafogo Futebol Clube (SP)
“O Botafogo informa que tomou ciência da denúncia contra os atletas Lucas Delgado, João Diogo e Eduardo Hatamoto, que são acusados de agressões físicas e verbais a uma mulher no Rio de Janeiro na madrugada do dia 26/09.
Os três jogadores deixaram a concentração por volta da 1h de segunda-feira, logo após a delegação chegar ao Rio de Janeiro. A saída dos atletas, no entanto, não estava liberada, já que o voo de retorno para Ribeirão Preto estava agendado para o início da manhã.
Nesta tarde, após conversa entre as partes, o atacante Lucas Delgado já teve o seu contrato rescindido. Eduardo Hatamoto e João Diogo também foram punidos por infração disciplinar. O Botafogo também informa que aguardará a conclusão das investigações para decidir quais outras atitudes serão tomadas sobre os dois atletas.
O Botafogo reafirma publicamente seu repúdio a toda e qualquer forma de violência e de assédio, especialmente contra as mulheres, e contribuirá na apuração dos fatos e responsabilidades.”
Fonte : Leslie Leitão e Mônica Teixeira, RJ2