Por que capturar o chefe do Estado Islâmico era tão importante para os EUA
A decisão de despachar uma equipe de Forças Especiais para alvejar Abu Ibrahim al-Hashimi al-Qurayshi mostra como ele era uma figura importante para Washington.
O chefe da organização extremista autodenominada Estado Islâmico (EI) foi morto durante uma ação americana na madrugada desta quinta-feira (3/2), no noroeste da Síria, disse em pronunciamento o presidente dos EUA, Joe Biden.
Ele declarou que a morte Qurayshi – que teria detonado uma bomba, matando a si mesmo e a membros de sua família – “removeu uma grande ameaça terrorista do mundo”.
Socorristas sírios disseram ter encontrado 13 corpos no local. A operação americana alvejou uma edificação de dois andares em uma área residencial na cidade de Atmeh, dominada pela oposição síria e um bastião de grupos jihadistas que rivalizam com o EI.
Um ponto importante é que, ao longo dos anos, operações realizadas pelos EUA contra figuras do EI ou do grupo radical Al-Qaeda geralmente eram realizadas à distância, por ataques com drones.
Mandar equipes militares em solo é muito mais arriscado – e uma medida reservada para alvos vistos como de “alto valor” ou sob condições desafiadoras. O caso mais emblemático é a ação militar que matou o líder da Al-Qaeda, Osama Bin Laden, no Paquistão em 2011.
Operações do tipo são usadas às vezes quando os EUA querem capturar um indivíduo vivo ou quando há algum tipo de inteligência que queiram coletar no local.
Os riscos eram grandes na missão contra Qurayshi. Biden disse ter descartado um ataque por drone para evitar mortes de civis e monitorou em tempo real, na Casa Branca, quando diversos helicópteros chegaram a Athmeh na meia-noite (horário local) de quarta para quinta-feira.
Fontes locais afirmam que as Forças Especiais dos EUA enfrentaram dura resistência em solo e foram alvejadas por armas antiaéreas. Houve em torno de duas horas de disparos de tiros até que os helicópteros deixassem o local.
Foi também em uma missão das Forças Especiais que os EUA mataram o fundador e líder anterior do EI, Abu Bakr al-Baghdadi. Em outubro de 2019, al-Baghdadi detonou uma bomba em si próprio quando foi acuado por tropas americanas na Síria.
No caso, agora, de al-Qurayshi, pouco se sabia sobre ele. O líder mais recente do EI era de perfil mais discreto e não tinha a mesma envergadura de seu antecessor, o qual havia lançado o chamado “califado” do EI.
‘Liderança sênior’
Acredita-se que ele tenha sido originalmente um oficial no Exército do ex-líder iraquiano Saddam Hussein e depois se alinhou aos combatentes anti-EUA – primeiro à Al-Qaeda e depois, ao EI.
Os EUA haviam, anteriormente, oferecido uma recompensa por informações a respeito de al-Qurayshi, dizendo que ele era “um líder terrorista de alto escalão na organização predecessora ao EI, a Al-Qaeda no Iraque (AQI), e continuamente ascendeu hierarquicamente para assumir uma liderança sênior”.
Os EUA também diziam que al-Qurayshi era um dos “mais sêniores ideólogos do EI” e “ajudou a promover e justificar raptos, massacres e tráfico da minoria religiosa Yazidi no noroeste do Iraque e também liderou algumas das operações terroristas globais do grupo”.
O Estado Islâmico não controla mais grandes partes da Síria, como chegou a controlar em seu auge de poder. O grupo tampouco atrai jihadistas como antes – quando seu comando de redes sociais recrutava jovens e incitava outros a promover ataques suicidas pelo mundo – nem tem conseguido lançar o tipo de operações externas na Europa como na época dos ataques ocorridos em 2015 em Paris.
No ano passado, sua “filial” no Afeganistão, chamada de Isis-K, ganhou muito mais atenção, particularmente pelo mortífero ataque em Cabul ocorrido no momento em que tropas dos EUA e aliados estavam se retirando do país.
Mas tem havido preocupações nos meses recentes, por parte de oficiais de contra-inteligência, com o fato de o EI estar tentando se reerguer no Iraque e na Síria e ampliar sua capacidade de ação. Isso vinha se traduzindo em emboscadas e ataques – particularmente na tentativa de realizar uma grande fuga prisional no nordeste da Síria, em janeiro, e em esforços renovados de propaganda.
A expectativa de Washington é que a morte de al-Qurayshi vá conter esses esforços de insurgência.
A realidade é que, muitas vezes, grupos simplesmente ganham novos líderes. Mas espera-se que os esforços que novos líderes façam para se manter vivos também dificultem a operação e a organização do EI.
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Fonte: Por Gordon Corera, BBC News