Professor aprende libras após perda auditiva do filho e passa a ensinar matemática na língua de sinais: ‘A inclusão é necessária’
Francisco da Paz de Carvalho estimula a comunicação entre estudantes ouvintes e surdos ao ensiná-los usando a Língua Brasileira de Sinais (Libras).
Pensando em facilitar a vida das pessoas surdas, o professor Francisco da Paz de Carvalho Tavares, de 60 anos, mudou a forma de ensinar matemática. Ele, que dá aulas para alunos do 6º ao 9º ano em Palmas, aprendeu a Língua Brasileira de Sinais (Libras) quando o filho mais velho começou a perder a audição. Depois disso o servidor público passou a usá-la nas salas de aula. Nesta sexta-feira, 15 de outubro, é comemorado o dia do professor, e ele tem orgulho da metodologia.
“A inclusão é necessária e hoje não é só pelo meu filho. É pela importância da inclusão, da aprendizagem da libras e da comunicação entre ouvintes e surdos”, disse Francisco da Paz.
O professor dá aulas na Escola Municipal Beatriz Rodrigues, onde há duas alunas surdas: uma no 9°ano e outra no 5°ano. Na sala de aula dele a metodologia é diferente das demais. Ao invés de haver um intérprete para as estudantes não ouvintes, o professor decidiu tratar todos da mesma forma. Os 30 alunos aprendem os conteúdos interpretando libras.
“A nossa aula é em libras. Todas as perguntas, as explicações e os pequenos diálogos e as respostas dos alunos são em libras. Quando é uma explicação mais detalhada, mais profunda, eu falo em português, mas já volto para libras novamente. É uma metodologia de ensino bem agradável e o aluno fica muito feliz”, disse Francisco da Paz.
A libras começou a fazer parte da vida do professor em 2008. Na época o filho dele, Francisco Junior, tinha apenas 8 anos e a família percebeu que ele estava com dificuldades para ouvir. Com o tempo a audição piorou. Hoje o jovem de 21 anos escuta somente 40% de um ouvido e 60% do outro.
Com a necessidade de melhorar a comunicação dentro e fora de casa, o professor começou a fazer especializações de libras. Atualmente ele é graduado em matemática e está na fase final do curso superior de letras libras, em Porto Nacional.
Francisco da Paz também faz trabalhos como intérprete. Já habilitado para ensinar libras ele teve autorização e liberdade para escolher o método de ensino na escola. A forma de ensinar fez o docente se apaixonar ainda mais pela profissão.
“Me sinto muito feliz. É um processo muito interessante. O aluno surdo se sente bem, na mesma posição que os outros, e fica incluído. O mais importante é que você está incentivando os alunos ouvintes a se interessar pela libras. Como temos nossa aluna surda, no intervalo vão se comunicar com ela. Dão bom dia, perguntam como ela está. Esses primeiros contatos são muito importantes. Aí entra a inclusão. Todo mundo tinha que saber pelo menos o básico e, por isso, logo que conheci a libras como forma de comunicação, passei a usá-la dentro da sala de aula”, disse.
O professor afirmou ao g1 que os estudantes gostam do método de ensino. “Eles ficam felizes. Acham fantástico. Ninguém nunca reclamou. Só reclamam os alunos que eu não dou aula. Aquelas turmas que eu não entro, por causa da minha grade, pedem para ter aula de libras. Os pais deles também querem que os filhos aprendam”.
A cada dia todos ficam mais familiarizados com o ensino. “Na sala tem um banner com várias frases em libras. Todos os alunos já entendem o básico. Bom dia, boa tarde, tudo bem, seu nome. Esses são os primeiros contatos com o surdo. Os alunos que eram da escola do ano anterior já sabem libras porque estudavam comigo, mas muitos que vêm de escolas não tem conhecimento da língua brasileira de sinais, mas vão estudando e aprendendo. Eles pegam rápido. Criança quando se entusiasma por uma coisa o aprendizado é fantástico”, contou o professor.
O interesse pela língua brasileira de sinais passou a ser de toda a família. . Por incentivo do professor, a esposa de Francisco também já apreendeu a comunicar-se com surdos e os outros dois filhos do casal também querem se especializar. O filho do meio tem 19 anos e cursa o 4º período de letras libras da mesma faculdade do pai. O mais novo tem 15 anos e afirmou que também quer cursar libras
Neste dia dos professores, Francisco diz se sentir realizado e com sensação de dever cumprido por estimular a comunicação com quem, na maioria das vezes, deixa de ser compreendido.
“Meu sentimento é de realização. Ver um projeto ser abraçado pela escola, pela comunidade é muito bom. A gente se sente realizado e muito feliz”, contou Francisco da Paz.
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Fonte: Por Letícia Queiroz, g1 Tocantins