Professor vítima de soterramento em Petrópolis ajudava a socorrer mãe do amigo com problema de mobilidade
“Sempre preocupado com o próximo, em ajudar os animais”, disse pai de Mário Augusto, que era professor de filosofia da UFRJ. Corpos foram encontrados na tarde de terça-feira na Washington Luiz, no Centro. Cachorro foi resgatado com vida.
Por Ariane Marques e Lucas Machado, g1 — Petrópolis
23/03/2022 04h00 Atualizado há 31 minutos
Foi em meio ao temporal deste domingo (20) em Petrópolis, na Região Serrana do Rio, que o professor de filosofia da UFRJ, Mário Augusto Queiroz Carvalho, de 35 anos, foi até a casa do amigo, Nelson Ricardo Ferreira da Costa, de 59 anos, para ajudá-lo a socorrer a mãe, Heloisa Helena Caldeira da Costa, de 86 anos, que tinha problemas de mobilidade, conforme contou a família das vítimas.
Todos estavam na casa, localizada na rua Washington Luiz, no Centro, quando tudo desmoronou.
Com as três vítimas da casa e mais outro corpo encontrado na tarde de terça-feira (22) na mesma localidade, de Vanila de Jesus da Silva, o número de óbitos nessa tragédia de março chega a seis. Uma pessoa, Miriam do Valle, segue desaparecida.
Os primeiros corpos a serem encontrados nesta terça foram de Nelson, que também era professor universitário, e o da mãe dele. Horas depois, os bombeiros localizaram o corpo de Mário. Na casa, de cor amarela, que sumiu da encosta, como mostra na foto abaixo, apenas o cachorro, que era de Mário e Nelson, foi resgatado com vida depois passar 24 horas soterrado.
Osvaldo Carvalho, pai do Mário, lembra do quanto o filho era querido e gostava de ajudar a todos.
“Era um amigo, uma pessoa querida na faculdade pelos alunos e professores. Sempre preocupado com o próximo, em ajudar os animais. Perdi o meu melhor amigo”, desabafa o pai.
A mãe de Mário, Maria de Fátima, explicou que o filho será cremado, um pedido expressado por ele. Ela fala da dor imensa que sente no peito e o exemplo que fica.
“Nosso coração tá vazio, tá despedaçado. É uma dor que a gente não sabe explicar”.
“Ele representada o que ele acreditava. Ele gostava muito de dividir o que ele sabia para as pessoas que precisavam. Ele sabia da importância de vocês poder passar aquilo que vocês sabe para contribuir. Era uma pessoa integrada, pensava muito no próximo. Mas ele tá em paz, eu tenho certeza, ele tá em paz”, relata a mãe, Maria de Fátima.
Mário era poliglota. Sabia inglês, francês, alemão e latim. Ele estudou na Grécia, Alemanha e França. A irmã dele, Isabel Carvalho, lembrou do amor que o irmão tinha pela arte e dos sonhos para uma futura viagem.
“Mas era apaixonado pela arte e construções árabes na península ibérica e no norte da África. Ele viajou para a região da Andaluzia e Marrocos, mas seu sonho era conhecer a Turquia. Foi o lugar que ele me disse que gostaria de conhecer na próxima vez que viajasse”, disse Isabel.
A morte do professor Nelson Ricardo Ferreira da Costa, de 59 anos, também causou consternação em Petrópolis.
Nelson era doutor em Artes Visuais pela UFRJ e lecionava nos cursos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Publicidade e Propaganda e Design de Moda em uma universidade particular de Petrópolis. Ele foi homenageado pela instituição nas redes sociais, e também pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio de Janeiro (Cau/RJ). Alunos também postarem mensagens de pesar pela morte do professor.
Segundo a família, o enterro do Nelson será às 11h desta quarta-feira (23) na funerária Oswaldo Cruz, na capela B. A postagem da família informa que o enterro será aberto a todos que desejarem prestar as últimas homenagens.
“Posso dizer que a comoção geral em torno da morte do Nelson mostra o tamanho dele como profissional e como pessoa. O legado que ele deixa está em cada um que foi tocado pelo trabalho dele como professor e artista. Em nome da família, sentimos muito a perda da minha avó Heloísa e de todos que estavam no local. Agradecemos o trabalho da Defesa Civil e esperamos que cada família afetada tenha algum reconforto, por mais difícil que isso seja agora. Nessas duas chuvas foram centenas de mortos. Nossa dor não é maior nem menor de tantas outras famílias. Só rezamos para que Petrópolis nunca mais passe por isso”, lamentou Lucas, sobrinho de Nelson.
Buscas continuam
As buscas continuam pela última vítima da tragédia deste domingo, Miriam do Valle, de 32 anos, que continua soterrada na Washington Luiz. Os militares também seguem procurando outras três vítimas da tragédia de fevereiro: Pedro Henrique Braga Gomes da Silva, de 8 anos, Heitor Carlos dos Santos, de 61 anos, e Lucas Rufino, de 20 anos.