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Sem apresentar provas, Rússia insiste em acusar Ucrânia de produzir armas biológicas com financiamento dos EUA

Feitas há alguns anos, acusações ganharam novo fôlego após a invasão russa; presidente ucraniano se diz preocupado com alegações: ‘se quiser saber quais são os planos da Rússia, apenas observe qual acusação faz aos outros’Filipe Barini12/03/2022 – / Atualizado em 12/03/2022 –

Em meio a uma ofensiva militar que parece enfrentar mais problemas do que os comandantes militares da Rússia imaginavam antes dos primeiros disparos, ganhou força uma teoria sugerindo que a Ucrânia está produzindo armas biológicas, e que esse programa seria financiado pelos EUA. Mas os dados oficiais, não só de Kiev e Washington, mas de organismos independentes, não corroboram essa ideia.

As acusações sobre o tema, vindas de Moscou, vêm sendo feitas há alguns anos, em parte relacionadas ao conflito travado entre o Exército ucraniano e separatistas pró-Rússia no Leste do país desde 2014, e que está relacionado à atual guerra.

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O argumento voltou a ganhar força no começo da semana, durante a fala da subsecretária de Estado dos EUA, Victoria Nuland, em uma sessão do Senado americano. Ali, foi questionada pelo senador republicano Marco Rubio se a Ucrânia tinha, de fato, armas químicas e biológicas.

— A Ucrânia tem instalações de pesquisa biológica com as quais estamos muito preocupados. Forças russas podem tentar assumir o controle desses locais — disse Nuland. — Por isso, estamos trabalhando com os ucranianos para que possam evitar que esses materiais caiam nas mãos dos russos, caso se aproximem dali.

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Em declarações posteriores, o Departamento de Estado esclareceu que Nuland se referia a laboratórios de diagnóstico e biodefesa, responsáveis pela contenção de ameaças, e não instalações de produção de armas biológicas. Os dois países possuem, desde 2005, uma parceria para o desenvolvimento local de vacinas e para evitar que armas do tipo sejam desenvolvidas — ações semelhantes ocorrem em outras ex-repúblicas soviéticas, como a Geórgia e o Azerbaijão.

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A iniciativa também traz o apoio da União Europeia e da Organização Mundial da Saúde, e praticamente todos seus dados são públicos, incluindo os valores usados para financiamento.

— Não estamos falando sobre funções adicionais, mas sim sobre a remoção de funcionalidades — disse, à revista Foreign Policy, Thomas Moore, que trabalhou com o senador Richard Lugar (falecido em 2019) em iniciativas para identificar e destruir o imenso arsenal de armas químicas e biológicas “herdado” pelas ex-repúblicas soviéticas após o desmoronamento do bloco, em 1991.

Alegações

Mas as palavras de Nuland serviram de combustível para recuperar a antiga teoria da conspiração. Na quarta-feira, a porta-voz da Chancelaria russa, Maria Zakharova, disse ter documentos mostrando que o Ministério da Saúde da Ucrânia ordenou a destruição de patógenos em uma “tentativa emergencial para apagar as evidências de programas de armas biológicas” financiados pelo Pentágono.

Na quinta-feira, o chanceler russo, Sergei Lavrov, se disse “alarmado com a informação de que o Pentágono criou dezenas de laboratórios no território ucraniano, em um programa para criar esses laboratórios ao redor do mundo, violando a Convenção sobre Armas Biológicas”.

— Não tenho informações se eles já usaram essas armas, mas praticamente não há dúvida de que esses são experimentos não pacíficos, mas voltados à criação de armas biológicas — afirmou,sugerindo que elas poderiam ser destinada a determinados grupos étnicos.

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Mesmo nos EUA, políticos ligados ao ex-presidente Donald Trump e personalidades da imprensa deram voz às alegações russas. No caso mais famoso, Tucker Carlson, âncora da Fox News e um dos mais famosos trumpistas do país, disse que a fala de Nuland “confirmava” a existência de um programa clandestino de armas biológicas.

Ele ainda descaracterizou uma entrevista que Robert Pope, diretor do Programa Cooperativo de Redução de Ameaças do Pentágono, deu em fevereiro, quando mencionou que alguns dos laboratórios apoiados pelos EUA ainda tinham patógenos criados nos tempos da URSS e que poderiam ser usados como armas se capturados pelos russos. Para Carlson, Pope teria admitido que novas armas eram produzidas ali.

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Até agora, nem o governo russo, nem os propagadores da teoria, seja através da imprensa tradicional ou de redes sociais, apresentaram provas que a comprovem — algumas supostas provas, que circularam nos últimos dias, têm fontes obscuras e trazem sinais de adulteração de documentos e incorreções. Mesmo assim, o representante de Moscou na ONU, Vassily Nebenzia, pediu a convocação de uma reunião do Conselho de Segurança para discutir a suposta ameaça,