Sobem os casos de Covid em três grandes destinos turísticos dos EUA
Feriados, mais eventos e certa apatia diante da pandemia estariam entre as razões
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Por Johnny Diaz e Christine Chung, The New York Times
20/06/2022 04h30 Atualizado há 3 horas
Os três principais centros urbanos norte-americanos onde a Covid está se disseminando mais rapidamente no momento têm uma coisa em comum: são destinos turísticos de verão.
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Miami-Dade, na Flórida, Honolulu, no Havaí, e San Juan, em Porto Rico, estão registrando, em média, pelo menos 85 novos casos por dia para cada cem mil habitantes, com o número de resultados positivos nos exames para a doença acima de 20%, segundo uma base de dados do “The New York Times”. Em contrapartida, o país como um todo conta, em média, 34 novos casos por dia para cada cem mil habitantes, com os resultados positivos batendo nos 13%.
Até quarta-feira passada, o volume de novos casos confirmados no país estava mais ou menos estável, com média recente de 110 mil por dia, depois de ter chegado abaixo dos 30 mil, meses atrás. E esses são só os casos oficiais; de acordo com os especialistas, com o uso difundido de kits caseiros, muitos resultados positivos nunca chegam a ser registrados, e quem tem sintomas leves ou está assintomático muitas vezes nem se dá ao trabalho de confirmar.
— O país praticamente todo já está em clima de verão, mas apesar disso os casos de Covid continuam a subir. Eu não esperaria nada diferente nos destinos turísticos — disse a médica Sandra Albrecht, professora assistente de epidemiologia da Universidade Columbia.
Os únicos locais com números recentes mais altos do que os dessas três cidades são algumas comunidades pequenas em Porto Rico ou no Havaí e alguns poucos condados rurais isolados espalhados pelo país.
As regiões atingidas no início da última onda, como a Nordeste, ultimamente vêm dando sinais de melhora, mas Miami-Dade vem piorando constantemente desde o início de abril, com a média diária de novos casos dez vezes maior, hospitalizações três vezes maiores e o número de mortes subindo.
O Centro de Prevenção e Controle de Doenças (CDC, na sigla em inglês) já considera o condado, bem como a maior parte do estado, área de alta contaminação, e recomenda precauções extras como o uso de máscara no transporte e em espaços públicos fechados.
A médica Mary Jo Trepka, diretora do departamento de epidemiologia da Universidade Internacional da Flórida, apontou os possíveis fatores responsáveis por esse aumento, incluindo os turistas no spring-break, os grandes eventos recentes, como o Grande Prêmio de Miami da F1, e o aumento da apatia em relação à pandemia:
— Acho que as pessoas deixaram de tomar tantas precauções como antes. Havia muito mais gente usando máscara, agora há muito menos. Estão menos cuidadosas porque se cansaram, não aguentam mais.
A prefeita Daniella Levine Cava suspendeu todas as medidas obrigatórias de segurança em Miami-Dade em fevereiro, mais ou menos quando o CDC alterou sua estratégia em relação a medidas como uso de máscara e distanciamento social. Na época, segundo a agência federal, a maioria das restrições não era mais necessária na maior parte do país, embora cada condado deva calcular os próprios riscos com a alteração das condições.
Quando a última onda se confirmou, em abril, Levine Cava pediu à população que se vacinasse, voltasse a usar máscara, desinfetasse as superfícies e mantivesse o distanciamento social, mas não tornou obrigatória nenhuma dessas medidas.
Em anúncio feito por escrito na última quarta-feira, ela pediu mais uma vez aos moradores que tomassem precauções por decisão própria, vacinando-se e recebendo o reforço, efetuando o exame em caso de sintomas e ficando em casa caso se sentissem doentes:
— As melhores armas para combater o vírus são as que já conhecemos e continuamos a usar.
Levine Cava observou que Miami-Dade era o condado com maior proporção de imunizados da Flórida, em uma campanha que mostrou resultados, com menos hospitalizações do que nas ondas anteriores:
— Mas mesmo assim é preciso cuidado. Ainda não vencemos o vírus, mas já sabemos como controlá-lo.
O prefeito de Honolulu, Rick Blangiardi, adotou uma postura semelhante. “O coronavírus não vai desaparecer. Por isso, aconselho a todos que continuem exercendo a responsabilidade pessoal com o uso de máscara ao redor de outras pessoas, a efetuação de exames em caso de mal-estar e a aplicação do reforço”, escreveu ele em nota divulgada quarta-feira passada.
Afirmou também não estar pensando em reinstaurar a obrigatoriedade dessas medidas e de outras restrições, mas sim “levando em consideração todas as soluções possíveis para qualquer situação que exija ação rápida”.
O condado, que inclui Oahu e algumas outras ilhas da área, também vinha registrando um aumento significativo semelhante ao de Miami-Dade desde o início de abril, se bem que tudo indica que já pode ter atingido o pico. Isso porque o número de novos casos diários por cem mil habitantes caiu ligeiramente, para 85, e o volume de resultados positivos dos exames feitos parou de subir em meados de maio.
O Havaí instaurou algumas das restrições de viagem mais rígidas do país, exigindo de todos que chegassem ao estado o cumprimento de uma quarentena de 14 dias; em março, porém, suspendeu tudo, permitindo aos viajantes saídos do continente a entrada sem nem efetuação de exames, e foi o último estado a abolir a necessidade do uso de máscara em locais fechados.
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Um mês depois disso, o setor estadual de turismo registrou o maior movimento desde o início da pandemia, com mais de 800 mil visitantes chegando ao arquipélago, segundo o Departamento de Negócios, Desenvolvimento Econômico e Turismo.
Mike McCarthy, diretor do órgão, afirmou em nota que a indústria estava “mostrando fortes indícios de recuperação”, e que, por isso, espera uma retomada gradual do número de turistas internacionais, principalmente de japoneses — que normalmente correspondem à maior parcela de visitantes.
Em Porto Rico, o governador Pedro Pierluisi suspendeu quase todas as restrições em março, e logo em seguida o número de novos casos confirmados começou a subir. Entretanto, o turismo se recuperou – e, embora as chegadas dos cruzeiros ainda não tenham atingido os níveis pré-pandêmicos, as viagens a negócios, para reuniões e convenções, já estão melhorando, como informou no fim de abril o Discover Puerto Rico, site oficial de turismo da ilha.
Kenira Thompson, presidente da coalizão de cientistas e vice-presidente de pesquisas da Universidade Ponce de Ciências de Saúde, em Porto Rico, recomendou que os mais velhos e os imunossuprimidos continuem usando máscara em locais lotados e que aqueles que têm direito de tomar a dose de reforço o façam o mais rápido possível.
— Na temporada turística de verão há sempre um grande número de pessoas reunido, e aumenta o contato entre elas, o que é uma receita infalível para disseminar a infecção, ainda que os casos seja menos graves. A precaução geral pode ter desaparecido, mas a Covid, ainda não — afirmou o dr. Alain Labrique, diretor da Iniciativa de Saúde Global da Universidade Johns Hopkins.
Fonte: Johnny Diaz e Christine Chung, The New York Times