Torcedores do Fluminense mundo afora vêm para despedida do Fred
ge encontra tricolores vindo da Inglaterra, Finlândia, EUA… E até da Malásia para jogo de sábado
Por Jamille Bullé e Thiago Lima — Rio de Janeiro
08/07/2022 04h00 Atualizado há 7 horas
A despedida de Fred está mobilizando pessoas e caravanas de vários lugares do Brasil, mas o Maracanã na verdade vai receber gente do mundo todo neste sábado, no jogo contra o Ceará, às 19h (horário de Brasília), pela 16ª rodada do Campeonato Brasileiro. Vários tricolores estão vindo de outros países, e o ge fez contato com alguns deles para saber suas histórias.
Dos Estados Unidos vem Jorge Junior, natural do Rio de Janeiro e que morava em frente ao Maracanã. Mas se mudou para Windermere, em Orlando, há quatro anos. De um tricolor que ia a todos os jogos com o pai (daquele que não abanda o time nos piores momentos e ia até nas Séries B e C), passou a integrar a “FluOrlando”, um grupo de cerca de 70 torcedores que se reúne de 15 em 15 dias na cidade americana para fazer um churrasco e acompanhar a equipe.
Jorge tem 38 anos e trabalha como analista de desempenho na base do Orlando City. Por causa da pandemia, Jorge não vem ao Brasil desde o início de 2020. Mas quando Fred voltou ao Fluminense naquele ano e já previa a aposentadoria em julho de 2022, o torcedor se programou. Marcou a passagem com uma margem de segurança e embarcou nesta quinta-feira com a esposa e os quatro filhos. Ainda farão escala no Panamá e chegarão ao Rio só na noite de sexta.
– Na verdade, o Fred foi a desculpa para ter férias, porque aqui não é igual no Brasil, se não trabalha não recebe (risos). Sabia que ele ia encerrar a carreira, então coloquei na programação para ficar 20 dias em julho, pegando os possíveis jogos para a despedida. Ainda pensei que fosse ser contra o Bragantino, mas vai dar tempo contra o Ceará. Vamos chegar no Rio às 23h45 de sexta.
Jorge não vai a um jogo do Fluminense desde o 1 a 1 com o Vasco em São Januário, no Brasileiro de 2018. Mas para a despedida de seu grande ídolo sequer cogitou ficar fora, mesmo que para isso tenha gastado algo em torno de R$ 25 mil, entre passagens aéreas e ingressos. Sócio-proprietário e sócio-torcedor ao mesmo tempo, mesmo à distância, ele conseguiu fazer a reserva na primeira leva. Mas por pouco não pegou no Setor Sul, onde sempre gosta de ir.
– Sempre fiquei na Sul, mas quando fui comprar só aparecia na Leste. Fiquei atualizando a página toda hora e nada. Até pensei: “vou desistir e pegar Leste mesmo”. Só que fui fazer um negócio do trabalho e depois fui ao banheiro, e lá do banheiro abri de novo pelo celular e apareceu um Sul. Peguei ali mesmo, saí gritando para pegar o cartão para pagar, foi literalmente uma “cagada” (risos). Deve ter sido algum cartão que não bateu e o ingresso voltou ao sistema. Peguei os quatro ingressos, então vou eu, meu pai e meus dois meninos, que têm oito e cinco anos, já estão na idade boa para viverem isso.
– Espero muito emoção. De longe cheguei a chorar pela TV contra o Corinthians. Meu pai estava no Maraca, me ligou chorando, muito emocionado, não conseguiu dormir naquela noite. Espero uma linda festa, que a torcida sempre faz, e que ela tenha paciência, jogue junto com time. E com ajuda do Papai do Céu, João de Deus, dos vivos e dos mortos, sairá o gol 200. Eu vi o gol 100 dele, estava no Independência em BH em 2012, e agora quero ver o 200.
Porto (Portugal)
De Portugal vem Gabriel Albuquerque, que é nascido em Niterói, mas cresceu em São Paulo, capital, sem deixar o amor pelo Fluminense. Da mesma forma quando foi para ainda mais longe: já está há quase quatro anos na cidade do Porto, onde faz faculdade de administração e estágio. Acompanhando o time de coração até de madrugada na Europa, ele já planejava a “loucura” de ir ao jogo final de Fred desde 2020 e ganhou a passagem de presente do pai.
– Eu fico aqui até 1h, 2h da manhã acordado para ver os jogos. Sou muito fã do Fred, fiz uma tatuagem dele no braço há muito tempo, antes de virar moda. Quando o Fred voltou em 2020 e já falaram de aposentadoria, pensei: “Não vou estar no Rio”. Mas desde a época estava em mente fazer uma loucura. Tinha que convencer meu pai, pedir aniversario, Natal adiantado… Depois do jogo com o Corinthians, ele me ligou: “Comprei sua passagem”. Ele não quis nem me dizer (preço) para eu não ficar assustado. Mas no mínimo metade do meu estágio de verão vai ser para ver um jogo (risos). Vai valer muito a pena. Estou indo só para o Rio, não vou nem passar para ver minha família em São Paulo.
Gabriel não vai ao Maracanã desde o 1 a 1 com o Corinthians nas quartas de final da Copa Sul-Americana de 2019. Aos 22 anos, o estudante é sócio-torcedor à distância e conseguiu ingresso na Leste Inferior. E espera apagar o trauma que viveu no estádio na Libertadores de 2008:
– Fred representa muito para mim. Esse jogo vai contar mais do que qualquer outro que possa ter ido. E espero colecionar memórias boas para apagar aquela final. Eu tinha nove anos, na hora dos pênaltis me tranquei no banheiro do Maracanã, e nunca vi até hoje. Vai ser bom voltar ao Maracanã lotado e viver uma experiência boa. Espero muito choro. Chorei com o gol dele contra o Corinthians, fui chorando no ônibus para fazer prova na faculdade, vendo os bastidores… Se parar para pensar, não tem expectativa de ter outro Fred em um futuro próximo.
Oulu (Finlândia)
Da Finlândia vem Thiago Fernandes. Ou melhor, já veio. Nascido em Niterói, o professor e sociólogo é casado com uma finlandesa e já mora há 12 anos no país, na cidade de Oulu, onde trabalha em um orfanato para refugiados. Depois de quatro anos sem visitar o Brasil, ele programou a viagem juntando férias da família e licença paternidade para passear com os três filhos. E juntar o útil ao agradável para não perder a despedida do ídolo e matar a saudade do Fluminense.
– Tinha comprado as passagens em janeiro. Tenho um filho de um ano e oito meses e decidi tirar a licença paternidade no mesmo período. Na Finlândia pode tirar até fazer dois anos. E a gente poderia vir em julho ou agosto, mas sabia que ia ter a despedida do Fred, então planejei a viagem de férias com a família, e na última semana ficar pelo Rio. Quando morava aqui era rato de Maracanã. Depois que me mudei ficava acordando de madrugada para ver os jogos, mas agora com três crianças e casado há 11 anos, ou você dorme ou fica sonâmbulo cuidando de todo mundo (risos).
Thiago, de 36 anos, investiu mais de 25 mil na viagem, entre passagens aéreas e ingressos. Para conseguir ir ao Maracanã, ele contou com a ajuda de um amigo e já esteve no estádio no sábado passado, na goleada por 4 a 0 sobre o Corinthians. E agora voltará com o pai para o adeus a Fred:
– Como já sabia que vinha, pedi para um amigo, que é sócio, comprar ingresso para os dois jogos. Cheguei dia 10 de junho, fomos a Búzios, passeamos com as crianças, e semana passada voltei ao Maraca depois de seis anos. Foi uma emoção ver os novos cantos que não conhecia, chorei com o gol do Fred… Nesse jogo fui com um amigo, agora vou com meu pai, de 70 anos. Provavelmente vai ser nossa última vez juntos no Maraca. No dia seguinte volto para a Finlândia. Pessoal até brincou comigo: “Vai passar a última noite no Brasil sem a família”? Amo minha família, mas passei as últimas três semanas com ela. Deixa eu passar agora com o Fred (risos).
Fonte: Jamille Bullé e Thiago Lima — Rio de Janeiro