UFC 271: Inspirado em Whindersson Nunes, Moicano busca vitória e “grana no bolso”
Peso-leve diz que suas prioridades mudaram após se tornar pai, rechaça mudar seu jeito para promover lutas e só pensa em voltar para casa após bater Alexander Hernandez em Houston
A luta de boxe entre Whindersson Nunes e Popó não foi uma surpresa apenas para os fãs do youtuber. No meio dos lutadores profissionais, a resistência de Nunes diante do campeão mundial serviu como inspiração ao menos para um dos maiores atletas do mundo: o peso-leve Renato Moicano. Em entrevista exclusiva ao Combate direto de Houston (EUA), o atleta disse que se inspirou na demonstração de coração e força mental de Whindersson diante de um obstáculo praticamente intransponível para a sua luta contra o americano Alexander Hernandez no UFC 271, deste sábado.
– As pessoas veem o UFC como algo muito distante, mas se você acredita, continua. Vocês viram a luta do Whindersson Nunes? Ele me impressionou demais. Vi muito lutador criticando, dizendo que o Popó aliviou pra ele. Posso estar errado, mas pra mim o Popó quis nocautear desde o primeiro round. Ele veio pra nocautear, cansou um pouco, mas o Whindersson estava preparado pra car***! Ele nunca tinha feito luta, passou alguns anos treinando e fez uma luta com o Popó, que é uma lenda do esporte, um grande campeão. O discurso dele no fim foi legal. Você consegue o que você quiser se você colocar toda a sua vontade. É nisso que eu estou me inspirando pro sábado. Botar toda a vontade e fazer o que for preciso pra sair com a vitória. Eu quis assistir à luta, e foi impressionante. Eu não sou boxeador nem striker, mas faço MMA profissional há mais de 10 anos, treino desde criança, mas o que eu vi foi um campeão mundial querendo nocautear um youtuber e o youtuber fazendo uma luta justa. Não foi uma luta competitiva, em nenhum momento o Whindersson colocou o Popó em risco nem ganhou round, mas o Popó foi pra nocautear, jogou golpes duros na linha de cintura, golpes de encontro e o cara, com a força da cabeça e da vontade, conseguiu aguentar todos os rounds e dar um show. Um cara que nunca lutou fazer aquilo? Ele mostrou que as pessoas são mais fortes do que elas pensam, só precisam acreditar.
Falando sobre a luta, Moicano disse estar pronto para buscar a vitória, já que teve bastante tempo de treinos. Na opinião do brasileiro, a principal arma do americano é o poder de nocaute e a explosão física no primeiro round.
– A preparação foi muito boa como sempre, lá na American Top Team. Estou sabendo da luta há bastante tempo e tive a oportunidade de fazer um evento de grappling no fim do ano para me preparar melhor. O Hernandez é um nocauteador, já nocauteou o Beneil Dariush. Tem a mão pesada. Acho que o perigo maior é no primeiro round, porque ele é duro, anda muito pra frente. Ele tem algumas brechas, mas não vou falar quais (risos). Mas são brechas normais de um cara com as características dele, que não é tão técnico e que talvez confie na explosão e no poder de nocaute. Ele espera bastante, e eu pretendo explorar isso na luta. Teoricamente, no papel, o meu jiu-jítsu é superior ao dele, mas luta não é só teoria. Vou ter que chegar lá, botar ele pra baixo pra fazer o meu jogo. Ele parece ter um wrestling bom. Estou preparado pra lutar em pé também, não tô pensando só em botar ele pra baixo, não. Espero que a luta acabe no primeiro round com uma finalização rápida, mas não gosto de prever nem de correr pra essas coisas acontecerem. Quanto mais rápido melhor, mas o que importa é a vitória.
Companheiro de treinos de Thiago Moisés, que venceu Alexander Hernandez no “UFC Rozenstruik x Gane” em 2021, Moicano diz que o compatriota o ajudou muito na preparação para a luta.
– O Thiago Moisés foi um dos meus principais sparrings pra essa luta, pelo próprio estilo de jogo e o biotipo dele. Não tanto por ter lutado, porque cada luta é uma história, mas pelo peso, tamanho e estilo. Treinamos bastante juntos. Você pode pegar alguns conselhos, mas não é a mesma luta. Eu perguntei sobre a força dele, o que ele achou, mas a luta deles foi muito em pé. Eu queria saber do chão dele, mas não teve como saber pela luta dele contra o Thiago. Não sei o quanto o Thiago ter lutado com ele me ajuda, mas sem dúvida já é alguma coisa. O Thiago venceu, foi uma luta competitiva. É um parâmetro para mim. Pelos meus treinos eu consigo comparar como ela vai ser, deu pra sentir um pouco. Quero até agradecer ao Thiago, me ajudou pra caramba.
Com um perfil mais discreto, Moicano diz que não se preocupa com o que o UFC planeja para promovê-lo. O lutador lembra que fará apenas sua quarta luta no peso-leve após fazer carreira no peso-pena da organização e que precisa ainda fazer a sua história antes de pensar em estar no topo da categoria. Seu objetivo, atualmente, é fazer rapidamente as lutas do seu contrato e ganhar o máximo de dinheiro possível.
– Eu não penso muito nisso de ascensão, cinturão… Eu tenho que fazer a minha história no peso-leve, tenho que trilhar o caminho. Eu estava no top 10 do peso-pena quando subi, mas logo que eu subi me deram um adversário ranqueado em Brasília, tive uma boa finalização. Logo depois fui derrotado pelo (Rafael) Fiziev, mas senti que deveria ter enfrentado outros caras ranqueados, deveria ter chegado como o Dan Hooker, que vai enfrentar o Arnold Allen, que é ranqueado. Mas não tenho como fazer o UFC fazer o que eu quero. Tenho que focar em atrair mais visibilidade pro meu nome. Mas como eu não estou preocupado com isso, quero vencer, colocar uma boa grana no meu bolso e partir pra próxima luta (risos). Acabei de renovar o contrato para mais quatro lutas. Quero fazer essas quatro lutas rápido, vencer e receber a grana.
Perguntado se o caminho para essa visibilidade seria ser falar mais antes das lutas, provocar ou desafiar adversários que servissem de atalho para o top 5, Moicano disse que não mudará o seu jeito de ser e que não se sente confortável no papel de falastrão. Consciente de que é um dos melhores do mundo no MMA, Moicano diz que prefere lutar, embolsar os cheques com os bônus da vitória e deixar que os seus resultados falem por ele.
– Eu pensei muito sobre isso de falar, mas não é o meu estilo. Eu vejo isso do Colby Covington ter feito o nome dele falando, e quem o conhece sabe que ele é boa-praça – eu já o conheci e ele me parece ser um cara bem tranquilo, apesar do quanto falou mal do Brasil. Mas eu não sei como eu poderia fazer diferente. Acho que vou fazer do meu jeito, lutar e fazer as pessoas gostarem de mim do meu jeito. Não vou mudar. O que mudou foi a minha cabeça, a minha mente. Agora que tenho filho, as minhas prioridades são outras. Sei que sou um dos melhores do mundo pelo meu nível de treinos e pela forma como treino com os caras da minha categoria. Eu sou bom pra caramba, e tenho que chegar lá e mostrar. O negócio é chegar lá, lutar, mostrar como sou bom, ganhar a bolsa da vitória e voltar pra casa pra aproveitar a minha família. Vou repetir esse ciclo até quando for possível.
Moicano lembra quando tentou desafiar Paul Felder após a vitória em 44s contra Damir Hadzovic no UFC Brasília, em 2020, e diz que não funcionou. Para o brasileiro, é difícil decifrar como o UFC pretende promover um lutador, a não ser que este lutador tenha um estilo mais extrovertido, como Colby Covington, Jorge Masvidal ou mesmo Sean O’Malley, e por isso ele prefere se concentrar nas performances dentro do octógono.
– Eu já fiz isso. Em Brasília eu ganhei a luta em 44s e desafiei o Paul Felder. Ele nem deu atenção. Hoje eu entendo o lado do UFC. Eles alavancam alguém pelos resultados, pela forma de lutar ou pelo que o lutador atrai de mídia e de repercussão. É muito difícil planejar como fazer isso. Tirando caras como Colby ou Masvidal, ou o Sean O’Malley, que usa maconha, drogas, e a galera gosta. Não estou criticando, é o jeito deles. O meu foco é a família, ficar em casa, ver meu filho e jogar um videogame. Por isso eu tenho que ser duas vezes melhor na luta. Tenho que chegar lá, dar um show, ganhar bem, e o que vier depois não depende mais de mim.
O Combate transmite o UFC 271 ao vivo e com exclusividade no próximo sábado a partir de 19h45 (horário de Brasília). No mesmo horário, SporTV 3 e Combate.com exibem o “Aquecimento Combate” e as duas primeiras lutas; o site acompanha o evento em Tempo Real. Na sexta-feira, o Combate e o SporTV 3 transmitem a Pesagem cerimonial, com o show de encaradas, diretamente de Houston, a partir de 19h.
UFC 271
12 de fevereiro de 2022, em Houston (EUA)
CARD PRINCIPAL (0h, horário de Brasília):
Peso-médio: Israel Adesanya x Robert Whittaker
Peso-pesado: Derrick Lewis x Tai Tuivasa
Peso-médio: Jared Cannonier x Derek Brunson
Peso-galo: Kyler Phillips x Marcelo Rojo
Peso-leve: Bobby Green x Nasrat Haqparast
CARD PRELIMINAR (20h, horário de Brasília):
Peso-pesado: Andrei Arlovski x Jared Vanderaa
Peso-mosca: Roxanne Modafferi x Casey O’Neill
Peso-mosca: Alex Perez x Matt Schnell
Peso-meio-pesado: William Knight x Maxim Grishin
Peso-galo: Mana Martinez x Ronnie Lawrence
Peso-leve: Alexander Hernandez x Renato Moicano
Peso-meio-pesado: Carlos Ulberg x Fabio Cherant
Peso-médio: AJ Dobson x Jacob Malkoun
Peso-galo: Douglas D’Silva x Sergey Morozov
Peso-meio-médio: Jeremiah Wells x Mike Mathetha
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Fonte: Por Raphael Marinho, ge