Análise: cinco questões sobre a Seleção que seguem sem resposta mesmo após goleada no Mineirão
Brasil domina Paraguai em goleada por 4 a 0, no Mineirão, que oferece opções e confirmações ao técnico Tite, mas não sana diversas dúvidas no caminho para a Copa do Mundo do Catar
Incrível notar que a noite em que a seleção brasileira goleou o Paraguai por 4 a 0 e bateu o recorde de maior sequência invicta na história das Eliminatórias, com 32 jogos sem derrota, tenha começado com vaias para o técnico Tite quando ele foi anunciado pelo sistema de som do Mineirão.
Sedento não apenas por resultado, mas também por espetáculo, o público (de pouco mais de 33 mil pessoas, decepcionante para o primeiro compromisso em casa no ano da Copa) foi brindado com os dois. Viu caneta de Vini Júnior, chapéu de Daniel Alves, golaço de Philippe Coutinho e atuação magistral de Marquinhos, armando a equipe com lançamentos impecáveis.
Num desenho que variava entre um 2-3-5 e um 3-3-4 na maior parte do tempo, a Seleção abusou da qualidade de seus zagueiros para iniciar as jogadas, teve os pontas bem abertos, alargando a defesa do Paraguai, e investiu em triangulações e viradas de jogo para tentar achar espaços.
Dominante desde o início – tendo gol anulado com um minuto – o Brasil controlou a bola em 77% da partida, cedeu pouquíssimas chances ao adversário e poderia ter aplicado uma goleada ainda maior com um pouco mais de pontaria e sorte.
Tite deve ter voltado ao Rio de Janeiro mais “light” (para usar um termo escolhido por ele recentemente) e com convicções reforçadas. Será mais difícil criticá-lo por convocar Coutinho depois desse jogo. Também demandará esforço maior para argumentar que faltam alternativas técnicas e táticas à Seleção na ausência de Neymar.
Mas há questões que seguem sem resposta mesmo após a goleada sobre o Paraguai. Algumas delas, inclusive, talvez tenham ficado ainda mais em aberto depois do duelo dessa terça-feira.
No embalo das listas que andam fazendo sucesso no Instagram, confira abaixo cinco dúvidas que Tite precisará sanar até o Mundial do Catar, no fim do ano.
Quem será o 9?
Seria injusto dizer que Matheus Cunha teve atuação ruim no Mineirão. Foi dele a “parede” e o passe para Raphinha na jogada em que o Brasil marcou logo no início do jogo, mas teve o gol anulado pela arbitragem.
O atacante ofereceu opções de tabela, brigou com zagueiros, se movimentou demais, mas seguiu sem balançar as redes pela Seleção após seu terceiro jogo seguido como titular.
A concorrência por essa vaga é grande, mas os demais postulantes também andam com dificuldades de balançar as redes com a amarelinha, casos de Gabriel Jesus e Gabigol. A disputa ainda tem Roberto Firmino, Richarlison e até Pedro, correndo por fora.
Assim como não se pode dizer que o papel de um camisa 9 seja apenas fazer gols, não dá para desconsiderar a importância de ter um goleador nessa função. A nove meses da Copa, a Seleção precisa gestar um centroavante.
Cabe todo mundo?
Dentre as dúvidas, talvez essa seja a melhor. Afinal, representaria não um problema, mas um dilema que qualquer treinador gostaria de ter.
Supondo que Coutinho retome o desempenho de outrora, consiga repetir com constância o nível de atuação que teve nesta terça, em Belo Horizonte, e chegue em alta no Mundial, como encaixá-lo na equipe ao lado de Neymar?
O cenário é diferente do que havia em 2018. Tite quer o craque do Paris Saint-Germain como arco e flecha, jogando mais centralizado, cada vez mais como um camisa 10.
E mais: onde entraria Lucas Paquetá, um dos melhores jogadores da Seleção desde o ano passado? Neymar poderia ser falso 9, com Paquetá pela esquerda e Coutinho mais centralizado, na armação? Dessa forma, a Seleção não ficaria fragilizada quando fosse atacada? São muitas as questões que só Tite e o tempo poderão responder.
E o Vini?
O dilema anterior fica ainda mais complexo de resolver quando Vinicius Júnior é adicionado à equação. O atacante tem encantado a todos pelo seu desempenho decisivo pelo Real Madrid nesta temporada, mas segue sem conseguir produzir o mesmo com a amarelinha, sobretudo quando o assunto é gol.
Enquanto no clube merengue ele já marcou 15 vezes em 30 jogos desde o meio do ano passado, pela Seleção ele segue sem ainda ter balançado as redes após 11 partidas, as três últimas como titular.
É possível notar o jovem se soltando pouco a pouco, mas os erros técnicos e de tomada de decisão são muito mais frequentes pelo Brasil do que no Real e têm impedido o primeiro gol de sair.
Enquanto isso, Antony já anotou duas vezes em sete jogos e vai pedindo passagem…
Dani resolve?
Escolhido para ser o capitão contra o Paraguai, Daniel Alves voltou a ser titular da Seleção após mais de dois anos e teve boa atuação.
Ajudando na construção mais pelo centro do que pela ponta, ele acertou 80 de 88 passes, ofereceu opções de triangulação e ainda se aproximou da área para finalizar.
Aos 38 anos, o veterano entrega ofensivamente aquilo que todos esperam. Mas o duelo da última terça-feira não testou Daniel naquilo que pode ser o calcanhar de Aquiles dele: a marcação.
Pouco exigido defensivamente em Belo Horizonte, o lateral deu mostras recentes de que sofre contra oponentes velozes e que suas coberturas não são tão seguras como no passado. Nesse aspecto, Danilo é muito mais eficiente do que ele.
Fato é que as duas primeiras partidas do Brasil em 2022 deixam Daniel Alves em vantagem na disputa com Émerson Royal por uma das vagas na lateral-direita canarinho no Catar.
E do outro lado?
Substituto de Alex Sandro, que foi diagnosticado com Covid-19, Alex Telles ganhou pontos com a sua atuação contra o Paraguai – apenas a quinta dele, aos 29 anos, pela Seleção.
Embora ele não tenha ido tanto à linha de fundo, o jogador do Manchester United criou boas chances, a melhor delas em cruzamento preciso para Matheus Cunha cabecear para fora, aos 8 minutos do segundo tempo.
Porém, é suficiente para dizer que Alex Telles está em vantagem em relação a Guilherme Arana? Renan Lodi, que só não foi convocado por falta de vacinação, já pode ser colocado como carta fora do baralho?
É bem provável que haja até mais do que essas cinco dúvidas na cabeça de Tite e que outras mais possam surgir no decorrer do ano.
Ao mesmo tempo, a atuação nos 4 a 0 também oferece confirmações, como as de que Fabinho é um reserva à altura de Casemiro, que Raphinha está cada vez mais consolidado como titular e que a mescla entre defensores experientes e atacantes jovens pode ser bastante frutífera. O caminho até a Copa ainda é longo e sinuoso, mas o Brasil tem uma direção.
Leia mais: https://ge.globo.com/futebol/selecao-brasileira/noticia/noticias-selecao-brasileira-analise-paraguai-cinco-questoes-sem-resposta.ghtml
Fonte: Por Bruno Cassucci