De Vítor Pereira a Carlo Ancelotti: No Mundial, clubes apostam em técnicos estrangeiros por filosofias distintas
Campeão mundial será definido em um futebol hiper globalizado, há várias filosofias diferentes para se encontrar um treinador
Por Marcello Neves
01/02/2023 03h00 Atualizado há 29 minutos
Assim que o Seattle Sounders (EUA) estrear no Mundial de Clubes, no próximo sábado, o técnico Brian Schmetzer será a exceção de uma regra: dos sete comandantes participantes do torneio, ele é o único com nacionalidade semelhante a do clube que dirige — ambos são americanos. Todos os outros são “estrangeiros”, como o português Vítor Pereira no brasileiro Flamengo ou o italiano Carlo Ancelotti no espanhol Real Madrid. Mas não é só moda: um olhar mais profundo mostra que além de o novo campeão mundial ser definido em um futebol hiper globalizado, há várias filosofias diferentes para se encontrar um treinador.
Por ser um torneio global, o Mundial de Clubes, que começa hoje com a partida entre Al Ahly-EGI e Auckland City-AUS, às 16h (de Brasília), no Estádio de Tanger, no Marrocos, é um exemplo visível de que não há apenas uma linha correta quando se escreve o futebol. São os contextos que fazem um pensamento vencedor. Afinal, mesmo que só um fique com o título, todos os clubes obtiveram sucessos em seus continentes de formas diferentes.
Grande favorito, o Real Madrid tem a ideia clara de que “só os melhores conseguem vestir a camisa branca”. Frase do presidente Florentino Pérez que chegou a ser escrita nos muros próximos ao Estádio Santiago Bernabéu. O “melhor” da vez é Carlo Ancelotti, italiano de currículo invejável: é o treinador que mais vezes venceu a Liga dos Campeões (quatro títulos)e o único a ganhar as cinco grandes ligas da Europa.
Parte dessa filosofia de querer ser sempre superior lembra um pouco a adotada pelo Flamengo quando decidiu escolher por Vítor Pereira. Neste caso, muito atrelado ao sucesso de Jorge Jesus, que aniquilou adversários, recordes e empilhou taças no rubro-negro. O português fez a diretoria atual crer que os técnicos brasileiros estão defasados comparados aos europeus. Subiu o sarrafo no que consideram a escolha ideal.
Esse padrão foi determinante a ponto de decidir não renovar o contrato de Dorival Júnior mesmo tendo conquistado a Libertadores e a Copa do Brasil em 2022. Pereira pode não ser um multicampeão, mas é coniderado superior taticamente e tem a chancela europeia desejada.
O Al-Hilal se assemelha ao rubro-negro neste ponto. Clube mais rico da Arábia Saudita, tem mantido a linha recente de escolher treinadores vitoriosos, independentemente do modelo de jogo ou resultados recentes. Lá, por uma questão cultural, não basta apenas vencer, mas demonstrar poder internamente.
Antes do argentino Ramón Díaz, ídolo do River Plate, passaram por lá nomes como os portugueses Jorge Jesus e Leonardo Jardim e o romeno Razvan Lucescu. Até Zagallo. É algo parecido com que o Al-Ahly, do Egito, tenta fazer agora comandado pelo suíço Marcel Koller. Já o Wydad Casablanca, do Marrocos, e o Auckland City, da Nova Zelândia, apostam em jovens para manter o domínio interno: o francês Mehdi Nafti, de 44 anos, e o espanhol Albert Riera, de 40, respectivamente. Nafti é uma escolha surpreendente pela pouca experiência e precisar carregar a missão de substitir Walid Regragui, que deixou o clube da África para comandar a seleção marroquina, que acabou semifinalista da Copa.
Até o diferente, Brian Schmetze, do Seattle Sounders, também segue uma filosofia particular: a preferência na MLS é por treinadores norte-americanos exatamente para desenvolver o futebol no país. Ele é uma exceção no Mundial, mas uma regra dentro dos Estados Unidos.
Fonte: Marcello Neves