‘Eles mentiram para nós’, diz prefeito de Mariupol sobre ataque russo durante cessar-fogo para evacuar civis
‘Eu não posso nem ir ver se meus parentes estão vivos porque o bombardeio não vai parar’, afirmou Vadym Boichenko.
Por g1
06/03/2022 07h42 Atualizado há uma hora
O prefeito de Mariupol, cidade portuária do sudeste da Ucrânia sob ataque russo há seis dias, afirmou que Moscou “mentiu para eles” sobre o cessar-fogo do último sábado (5). Uma trégua de cinco horas havia sido prometida pelo comando russo, mas os ataques não pararam.
“Quando nos contaram sobre a evacuação, fiquei feliz porque havia uma possibilidade de salvar os moradores de Mariupol. Eu tinha esperança. Eles mentiram para nós”, declarou Vadym Boichenko, em entrevista à Reuters.
Boichenko afirmou que, antes da trégua, o Exército russo tinha bombardeado a frota de ônibus da cidade e destruído metade dos coletivos.
“Eles disseram que haveria uma janela de cessar-fogo durante o sábado e pediram para nos preparar. Mas eles não nos deram nenhuma oportunidade de enviar os ônibus para os pontos de evacuação. Pedimos às pessoas que se dirigissem até lá. Nesse momento, os bombardeios recomeçaram”, narrou.
“O bombardeio não parou nos últimos seis dias”, acrescentou. “Simplesmente 24 horas por dia, todos os dias, um bombardeio contínuo. Isso é insuportável, você não pode nem imaginar como é cruel, como é difícil.”
O prefeito afirmou que os russos “têm trabalhado metodicamente a fim de criar uma crise humanitária para que as pessoas fiquem sem comida, água, luz, aquecimento e meios de comunicação”.
“Durante os primeiros dias de guerra, contamos as vítimas às dezenas. Hoje as contamos às centenas e em dois dias provavelmente as contaremos aos milhares”, emendou.
Boichenko disse também que a população mal consegue dormir.
“O melhor que temos são três horas de sono, se você pode mesmo chamar isso de sono. Não é possível dormir durante bombardeios contínuos, quando os aviões estão voando sobre sua cabeça e mísseis explodem ao seu lado.”
O prefeito falou ainda que não teve nenhum contato com a família. “Eu não posso nem ir ver se eles estão vivos porque o bombardeio não vai parar”, lamentou.
“Agora sinto que estão arrancando meu coração e minha alma.”