Felipe Pires e torcedor do Inter são ouvidos, e polícia abrirá inquérito para apurar suposta injúria racial
Partes foram ouvidas no JECrim e colhidos depoimentos e vídeos sobre o ocorrido. Atacante do Juventude evitou dar declarações na saída do Beira-Rio
Por Tomás Hammes — Porto Alegre
30/08/2022 03h17 Atualizado há 5 horas
O episódio relatado por Felipe Pires terá um desenrolar nos próximos dias. O atacante registrou boletim de ocorrência sobre o ocorrido no JECrim (Juizado Especial Criminal) e a polícia promete abrir inquérito para averiguar se houve ou não injúria racial durante a goleada do Inter por 4 a 0 na noite de segunda-feira no Beira-Rio.
+ Felipe Pires alega ter sido alvo de injúria racial
Ainda durante o jogo, ao ser substituído por Oscar Ruiz aos 35 minutos do segundo tempo, Felipe Pires alegou a ofensa vinda de um colorado que estava atrás do banco de reservas do visitante. O torcedor, que disse ter vibrado com a entrada de Rafinha na vaga de Jadson simultânea a saída de Felipe Pires, acabou retirado do local por seguranças e levado ao posto policial do estádio.
As partes prestaram depoimentos. A polícia, que colheu as versões e os vídeos, relatou sobre as duas posições e ambos deixaram o local no final da noite de segunda. O torcedor nega ter utilizado a palavra “macaco”. Amigos do colorado foram ouvidos. Rafinha não, mas a tendência é que seja chamado nos próximos dias.
Felipe estava chateado com o episódio. O advogado do torcedor, Bruno Scheidemandel Neto, falou sobre a posição do cliente.
– A versão é absolutamente verossímil, respeitando todos os pontos contrários. Os meninos e ele são amigos de infância do Rafinha, foram ao hotel cumprimentá-lo. Todas as brincadeiras que fizeram na substituição. Era estreia dele. Eles, sendo de Caxias, se posicionaram atrás do banco do Juventude pelo amigo. Era o motivo que os trouxe ao jogo – informou o advogado.
– Depois perante a delegada constatamos que realmente não tem nenhuma citação que lembre injúria racial. Não se quer descaracterizar, polemizar com o depoimento do Felipe. Parece que jogou em um país com histórico de racismo no leste europeu. Respeitamos a posição de todos porque é uma questão muito séria – completou Scheidemandel.
O atacante do Juventude evitou dar declarações na saída. Deixou o posto acompanhado por membros da comitiva da equipe de Caxias e um segurança do Inter até a parte interna do estádio, onde encontraria o restante da delegação.
Inter e Juventude emitiram notas sobre o ocorrido. Ambos repudiaram o racismo. O Colorado garantiu que buscará ajudar as autoridades na apuração e solidariedade a Felipe e o time da Serra.
Confira a nota do Inter:
“Na noite desta segunda-feira (29/08), durante o segundo tempo da partida entre Inter e Juventude, o atleta Felipe Pires foi vítima de injúria racial no Beira-Rio. Diante do episódio, o Clube do Povo manifesta seu absoluto repúdio a todo e qualquer tipo de preconceito, e informa que, tão logo ocorreu a identificação do responsável pelo ato, o torcedor foi retirado das arquibancadas do Gigante e sofrerá sanções em função do comportamento inadequado.
O Internacional está ajudando as autoridades na apuração dos fatos, e reitera seu apoio ao Juventude e ao atleta. O Clube lamenta que o episódio tenha ocorrido na partida de hoje, quando o time atuou com com a camisa preta e um patch antirracismo, elaborado pela CBF, estampado em seu novo uniforme.”
Veja a manifestação do Juventude na íntegra:
“O Esporte Clube Juventude reitera seu repúdio para com todo e qualquer tipo de ato racista ou discriminatório. Na noite desta segunda-feira (29), ao minuto 36 do segundo tempo da partida diante do Internacional, no estádio Beira-Rio, o atleta Felipe Pires foi alvo de insultos racistas de um torcedor do Internacional, que foi prontamente identificado pela segurança do clube mandante.
Ao final da partida, com total apoio jurídico do Juventude, o atleta registrou Boletim de Ocorrência no JECRIM localizado no estádio Beira-Rio. O clube seguirá absolutamente atento ao caso e prestando todo o apoio necessário a Felipe Pires.”
Fonte: Tomás Hammes — Porto Alegre
