Ingresso de R$ 35 bi em recursos de estrangeiros este ano dá folego ao mercado financeiro
Bolsa brasileira mais barata após desvalorização de 2021 e busca por papeis de commodities atraem investidor, que vê riscos mais adianteVitor da Costa07/02/2022 – 03:30 / Atualizado em 07/02/2022 – 07:51
RIO – Impulsionado pela entrada de recursos de investidores estrangeiros, o mercado financeiro iniciou o ano em trajetória de recuperação. O Ibovespa, índice de referência na Bolsa, acumula alta de 7,08%, e o dólar tem queda de 4,56% até sexta-feira.
No mês de janeiro, a Bolsa atraiu R$ 32,49 bilhões de investidores fora do Brasil, o quarto mês seguido de ingresso de recursos e a segunda maior marca em um período de dez anos. Até 2 de fevereiro, esse movimento prosseguia em alta, com um total de R$ 35,10 bilhões aplicados.
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As razões que justificam o apetite destes investidores são várias. A Bolsa brasileira ficou barata depois de ter acumulado desvalorização de 11,93% no ano passado. Além disso, analistas apontam um movimento de busca por papéis ligados a commodities.
Eleição em segundo plano
A preocupação com fatores econômicos deixou em segundo plano o que seria impensável em outros tempos: o cenário eleitoral. Economistas de bancos e gestoras, em geral, evitam discutir abertamente as expectativas para a disputa deste ano. Em conversas reservadas, afirmam que Lula e o presidente Jair Bolsonaro, os dois primeiros nomes nas pesquisas, têm histórico bastante conhecido.
A avaliação entre os analistas é que alguns dos potenciais medos de guinada na condução do país já foram incorporados aos preços no fim do ano passado. Além disso, a leitura é que as principais candidaturas devem se aproximar do centro e adotar postura mais pragmática.
Isso não significa, porém, que o mercado financeiro esteja imune aos rumos da corrida eleitoral, ao vaivém das pesquisas e às sinalizações dos presidenciáveis.
— O quadro político está mais ou menos estabelecido, mas tem dinâmicas que surpreendem. Talvez tenhamos uma piora disso na segunda metade do ano, quando ficar mais claro o quadro que vamos ter para a sucessão presidencial — afirmou Alexandre Schwartsman, economista e ex-diretor do Banco Central.
A percepção de risco eleitoral adiante não é o único fator que coloca em dúvida a manutenção da calmaria no mercado. A partir de março, o mercado deve passar por uma “virada de chave” com o início do processo de aumento dos juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano).
Enquanto não chega esse momento, o país tem se beneficiado de uma corrida por “ações de valor”, papéis de empresas com histórico mais consolidado e ligados à “velha economia”, como as commodities. Na sexta-feira, o barril do Brent superou os US$ 93, na maior cotação em sete anos, e parte do mercado avalia que há espaço para chegar aos US$ 100 nos próximos meses.