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Polícia do Canadá detém cem manifestantes antivacina em Ottawa

Operação visa a pôr fim a protesto de caminhoneiros, que bloqueiam ruas da capital Ottawa há quase três semanas; Parlamento adia votação de lei que dá poderes de exceção ao premierO Globo e agências internacionais 19/02/2022 – / Atualizado em 19/02/2022

OTTAWA — A polícia canadense deteve nesta sexta-feira cem manifestantes do chamado “comboio da liberdade”, o movimento de caminhoneiros contrários às medidas sanitárias contra a Covid, numa operação que visa a pôr fim ao bloqueio de ruas de quase três semanas na capital Ottawa. Os policiais também conseguiram retirar 21 veículos que estavam estacionados nas ruas da capital, mas ainda há dezenas atrapalhando a vida normal da cidade.

— Vamos manter essa operação 24 horas por dia até que os moradores e a comunidade tenham toda a cidade de volta — disse Steve Bell, chefe interino da polícia de Ottawa.

Nesta sexta-feira, em meio a temperaturas congelantes de até -23°C, dezenas de policiais entraram no acampamento de protesto perto da avenida onde fica o Parlamento, tentando tirar pessoas dos veículos que ocupam ruas do Centro da cidade desde o final de janeiro. As detenções começaram na quinta-feira à noite, após a polícia lhes dar um ultimato na véspera.

“Alguns manifestantes estão se rendendo e sendo presos. Pedimos aos manifestantes que permaneçam pacíficos e dentro da lei”, disse a polícia de Ottawa numa rede social.

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Tamara Lich, uma das organizadoras do protesto, foi detida na quinta sem opor resistência, segundo um vídeo publicado em redes sociais pela conta oficial do movimento. Poucas horas antes, quando a polícia anunciou um ultimato aos manifestantes, Lich afirmou que sua detenção “era inevitável”.

Nas imagens da prisão, ela aparece algemada, cercada por dois policiais, e gritando para os companheiros para “resistir”. Outro líder do movimento, Chris Barber, também foi detido.

Na quinta, a polícia canadense, que mobilizou um grande aparato nas ruas de Ottawa, afirmou que se preparava para intervir de forma “iminente”.

— Estamos prontos para agir e para expulsar os manifestantes ilegais de nossas ruas — disse Bell, acrescentando que o fim de semana será “bem diferente dos três anteriores”. — Se quiserem sair por conta própria, agora é a hora.

A cidade de Ottawa, a província de Ontário e todo o Canadá estão em estado de emergência por causa do movimento de protesto sem precedentes, que começou com a oposição de caminhoneiros à exigência de se vacinar contra a Covid-19 para cruzar a fronteira com os EUA.

O movimento, que desde o princípio teve envolvimento de teóricos da conspiração e defensores da extrema direita, expandiu-se e passou a abranger o conjunto de medidas sanitárias e o governo canadense.

A Câmara Baixa do Parlamento canadense preparava-se para votar nesta sexta-feira a chamada Lei de Emergências, um dispositivo nunca antes usado que concede ao primeiro-ministro poderes de exceção, mas a sessão foi adiada em função da ação policial.

A lei permitiria a Justin Trudeau, atual ocupante do cargo, adotar “medidas para regular ou proibir qualquer reunião pública” que “possam razoavelmente levar a uma violação da paz”.

Na prática, permitiria ao premier proibir legalmente a entrada no acampamento dos caminhoneiros, exigiria a remoção imediata dos ocupantes e tornaria ilegal fornecer ajuda, como comida ou combustível, aos manifestantes. Quem violasse o dispositivo estaria sujeito à condenação sumária de até seis meses de prisão.

A lei, cuja duração é de 30 dias, substituiu a Lei de Medidas de Guerra — invocada só uma vez, pelo pai do atual chefe de governo, Pierre Trudeau, em 1970.

Organizações de defesa das liberdades individuais e dos direitos civis protestaram contra o uso da Lei de Emergências, afirmando não ser necessário invocá-la. Deputados prometem votá-la no início da semana que vem.

Durante um discurso aos deputados numa sessão para discutir a aprovação da lei, Trudeau justificou-se afirmando que o movimento não é mais “pacífico”.

— O objetivo de todas as medidas, incluindo as financeiras, previstas na Lei de Emergência é enfrentar a ameaça atual e controlar totalmente a situação — disse o premier.

Para além do mau tempo, as forças de segurança temem que a desocupação seja dificultada pela presença de “elementos radicais” e também de muitas crianças na manifestação, incluindo bebês.

Os manifestantes acordaram nesta sexta-feira com o acampamento coberto de neve, após uma nevasca durante a noite. Muitos fizeram fogueiras para se aquecer, enquanto observavam os policiais. O caminhoneiro Kevin Veurink prometeu ficar “até que nos prendam, se isso acontecer”.

— Eles estão tentando assustar as pessoas para que não venham neste fim de semana — disse à AFP.

No domingo, a polícia desocupou a Ponte Ambassador, a principal via de tráfego do comércio entre Canadá e EUA, crucial para a indústria automobilística americana. Calcula-se o prejuízo em bilhões.

O movimento de caminhoneiros é extremamente minoritário entre a população do Canadá, que tem uma taxa de vacinação acima de 80%, uma das mais altas do mundo.