Por Sandra Cohen
Especializada em temas internacionais, foi repórter, correspondente e editora de Mundo em ‘O Globo’
Em dívida com Putin, ditador de Belarus recebe 30 mil soldados russos na fronteira com a Ucrânia
Lukashenko estreita laços com a Rússia, que lhe garantiu a sobrevivência política e o 6º mandato após eleições fraudadas.
04/02/2022 08h48 Atualizado há 27 minutos
Quando Belarus foi sacudida por protestos em massa contra a reeleição fraudulenta de Alexander Lukashenko, em 2020, a Rússia socorreu o ditador para que ele comandasse a repressão brutal contra opositores e assumisse o sexto mandato consecutivo.
O presidente russo, Vladimir Putin, agora lhe cobra a fatura, mandando 30 mil soldados para a fronteira com a Ucrânia sob o pretexto de realizar manobras militares em conjunto, programadas entre os dias 10 e 20 deste mês (veja no vídeo abaixo).
A maior missão russa em 30 anos no território bielorrusso é composta de tanques e artilharia, caças e helicópteros, sistemas avançados de foguetes e milhares de tropas e acendeu o alerta na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Outros 110 mil soldados cercam a fronteira russa com a Ucrânia, embora Putin negue a intenção de invadir o país.
No entender do secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, o exercício militar entre os dois aliados carece de transparência e pode ser apenas um disfarce, diante da localização estratégica.
Cerca de 1.000 quilômetros perfazem a divisa entre Ucrânia e Belarus, que compartilha também a fronteira com outros três membros da Otan: Polônia, Letônia e Lituânia.
Além disso, Kiev fica a apenas 140 quilômetros da fronteira bielorrussa, que tem a rota mais rápida, em torno de duas horas e meia, para os russos chegarem à capital ucraniana.
Apontado como o último ditador da Europa, Lukashenko faz o dever de casa ditado por Putin. Recebeu o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, e saudou os exercícios militares como forma de reforçar a fronteira de seu país com a Ucrânia.
Até a última reeleição, o presidente-ditador resistia às investidas de Putin para uma integração com a Rússia, dentro de um espaço econômico, com instituições conjuntas e moeda única. Lukashenko bradava pela soberania e pela independência bielorrussa.
Durante a anexação da Crimeia, em 2014 pela Rússia, manteve-se neutro. Ensaiou a aproximação com o Ocidente e livrou-se, por um período, de sanções aplicadas por EUA e Europa. Desta forma, conseguia equilibrar-se entre a Rússia e o Ocidente.
As eleições de 2020, entretanto, mudaram radicalmente o panorama para o ditador. Enfraquecido pela onda de protestos que varreu o país, teve a vitória questionada e considerada ilegítima por boa parte dos países ocidentais.
Restou a ele jurar lealdade à Rússia para manter-se no cargo e mandar milhares de opositores para o exílio ou a prisão.
Ato contínuo, Lukashenko reconheceu a Crimeia como território russo e cedeu às pressões para aprofundar os laços com a Rússia, assinando uma série de acordos visando à integração entre os dois países.