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Porão de maternidade em Kiev se torna refúgio para a vida em meio à guerra da Ucrânia

Na capital sob cerco, o subsolo do Hospital Maternidade da Praça Sevastopolska abriga 28 mulheres que acabaram de parir ou que estão prestes a dar à luzElizabeth Piqué, do La Nación03/03/2022 – 04:35

KIEV — As mulheres de Kiev não choram. Isso é demonstrado por Anna, uma das 28 delas que estão na Maternidade da Praça Sevastopolska, no centro de Kiev, onde, apesar da guerra, morte e destruição, ainda há vida.

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Com 25 anos, cabelos presos para trás e sorriso forçado, Anna, grávida de nove meses, está deitada em um beliche no porão da maternidade. A guerra, que estourou há oito dias, desequilibrando o mundo inteiro, transformou esse corredor improvável, escuro, de teto baixo, grandes canos verdes à vista, na nova sala de pré-parto da maternidade, cheia de colchões de cores diferentes, enfermeiras e mulheres barrigudas ao mesmo tempo expectantes e corajosas.

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Na entrada da sala de parto, destaca-se a imagem de uma santa. Alguns metros adiante, em outra sala escura, mas muito limpa, fica o bunker da sala de parto, onde Benjamin nasceu há algumas horas. É o primeiro filho de Tatiana, uma jovem de 22 anos que parece feliz aos jornalistas.

A maternidade é um prédio de três andares pintado de verde claro em um bairro a 10 minutos ao sul da Praça Maidan. À sua entrada, destacam-se no teto duas falsas cegonhas, carregando no bico um pacote. Em frente ao edifício, cuja entrada só é permitida após verificação de credenciamento e passaporte, há um posto de gasolina cujas bombas foram completamente envoltas em rolos de filme plástico.

É mais um reflexo de uma cidade totalmente transformada, em poucos dias, em zona de guerra, cheia de postos de controle e barricadas, a maioria composta por grandes sacos de areia, blocos de cimento e barras de metal transversais. Também há barreiras para se defender do inimigo russo, mais precárias, compostas de pneus, troncos de árvores, móveis antigos, pedaços de colunas e o que for.

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Confirmando que também há uma guerra psicológica em curso, além das cercas, apareceram grandes outdoors eletrônicos pretos com uma legenda branca em cirílico e uma mensagem dirigida às forças invasoras à espreita: “Soldados russos, parem! Como podem olhar seus filhos nos olhos? Continuem sendo humanos!”, diz o primeiro por alguns segundos, que depois muda e indica: “Não matem suas almas pelos oligarcas de Putin. Saiam sem sangue em suas mãos”.

O mais curioso é que, em uma cidade quase fantasma — em que todos aguardam o ataque final e os alarmes antiaéreos não param de soar — ainda há ordem. As ruas são limpas e, embora o trânsito seja mínimo e os ataques sejam temidos, quem dirige respeita rigorosamente os sinais vermelhos dos semáforos.

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O diretor da maternidade, o obstetra Dmytro Govseiev, de bigode grisalho e uniforme azul claro, tenta transmitir calma. Diante dos jornalistas, ele diz que está tudo sob controle, que no momento não falta nada à maternidade.

— Desde que a guerra começou, a única coisa que aconteceu é que as salas de parto e pré-parto mudaram para o subsolo, em vez do segundo andar, e mudamos os turnos dos médicos, que por motivos de segurança vieram se instalar aqui, junto com suas famílias — conta o médico.

Ele acrescenta que os voluntários levam tudo o que precisam e que a única grande mudança é que há menos partos.

— Antes tínhamos cerca de 20 por dia, agora cinco, mas isso porque muitas mulheres que não estavam grávidas de muitos meses fugiram para o oeste, neste êxodo que estamos vivendo — acrescenta.