Prefeitos e governadores que renunciam para disputar eleição têm histórico de derrotas nas urnas
Desde 2010, maioria dos políticos nos Executivos estaduais e nas capitais que deixaram cargos para concorrer a outro posto fracassaram. Este ano foram noveBernardo Mello29/04/2022 – 04:30 / Atualizado em 29/04/2022 – 08:37
RIO — Governadores e prefeitos de capitais que renunciaram a seus cargos no início do mês para disputar novos postos nas eleições deste ano enfrentam dificuldades para ampliar ou manter alianças e palanques para suas campanhas, diante de um histórico recente desfavorável. Em 2010 e 2018, apenas três dos dez prefeitos que se afastaram no meio do mandato foram bem-sucedidos ao tentar voos mais altos — em 2014, nenhum se candidatou. O índice de sucesso foi similar ao de governadores que se aventuraram nas duas últimas eleições, deixando os Executivos estaduais na reta final de mandato.
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Os fracassos eleitorais da última década se relacionaram com o avanço da Operação Lava-Jato sobre alguns dos governantes que se candidataram e também com a onda de manifestações, entre 2013 e 2016, que afetaram a popularidade de gestores estaduais e municipais. Já neste ano, candidaturas de ex-governantes em nove estados passam por turbulências geradas pelo controle da máquina administrativa por parte de adversários, em alguns casos, e por dificuldades para manter alianças.
Retrospecto negativo
Entraves para alianças
Em Minas, onde Alexandre Kalil (PSD) renunciou à prefeitura de Belo Horizonte para concorrer ao governo, há entraves para uma aliança com o PT, do ex-presidente Lula. Para firmar o palanque, o PT deseja que Kalil apoie ao Senado o petista Reginaldo Lopes, mas o PSD já tem como pré-candidato o senador Alexandre Silveira. Silveira tem boa relação com o governador Romeu Zema (Novo), postulante à reeleição, e com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), principal nome da sigla no estado.
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Além de Kalil, outros dois prefeitos de capitais que deixaram os cargos — Gean Loureiro (União), de Florianópolis, e Marquinhos Trad (PSD), de Campo Grande — devem concorrer contra candidatos ao governo apoiados pelas máquinas estadual e federal. Trad esperava obter o apoio do governador Reinaldo Azambuja (PSDB), a quem apoiou na última eleição, mas terá de enfrentar o pré-candidato tucano Eduardo Riedel. Aliado da ex-ministra Tereza Cristina (PP), postulante ao Senado, Riedel pode atrair o presidente Jair Bolsonaro para seu palanque. Já o ex-prefeito tem mirado partidos menores, como Patriota e PTB.
— O PSDB deve ter um arco maior de alianças. Para o Marquinhos (Trad), será importante mostrar na campanha que fez uma gestão democrática bem avaliada na capital — afirmou o deputado Fábio Trad (PSD-MS), seu irmão.
Em Santa Catarina, além de costurar uma aliança com o PSD, Loureiro ainda busca atrair o MDB, que elegeu o maior número de prefeitos no estado em 2020. O acordo, contudo, passa pelo alinhamento nacional das duas siglas, e o União tem sinalizado que pode desembarcar do bloco da terceira via. Contra as prováveis candidaturas do governador Carlos Moisés (Republicanos), candidato à reeleição, e do senador Jorginho Melo (PL), apoiado por Bolsonaro, aliados de Loureiro dizem que é fundamental firmar alianças que ampliem sua capilaridade, já que Florianópolis não é sequer o maior colégio eleitoral do estado.
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— Gean mostrará seus êxitos na capital, mas é importantíssimo atrair apoios em regiões com peso eleitoral — disse o deputado Fábio Schiochet (União-SC).
Dificuldade com a base
No caso de ex-governadores, Flávio Dino (PSB) no Maranhão, Camilo Santana (PT) no Ceará e Renan Filho (MDB) em Alagoas, que disputarão vaga no Senado, ainda vivem desafios para aglutinar a base em torno de sucessores. O caso mais sensível é o cearense, em que o PT de Camilo e o PDT do senador Cid Gomes (CE), um de seus principais aliados, já explicitaram divergências na definição do candidato ao governo. O PT apoia a vice de Camilo, Izolda Cela (PDT), que assumiu o mandato em abril, mas o ex-prefeito de Fortaleza, o pedetista Roberto Cláudio, busca ser candidato com apoio do presidenciável Ciro Gomes (PDT).
Fonte: Bernardo Mello