Professora ucraniana que morou em Fortaleza conta o que mudou em duas semanas de guerra
Olga Tarnovska, que morou no Ceará em 2018, conta que entrar em contato com parentes e amigos para saber se estão vivos se tornou rotina diária.
Por Samuel Pinusa, g1 CE
10/03/2022 05h05 Atualizado há 3 horas
A ucraniana Olga Tarnovska, que está no país no meio do conflito com a Rússia, relatou que a primeira coisa que faz todos os dias ao acordar é tentar contato, presencial ou por telefone, com familiares e outros conterrâneos para saber se ainda estão vivos. A invasão russa na Ucrânia chegou ao 15º dia nesta quinta-feira (10).
Olga morou no Ceará em 2018 e, atualmente, mora em Vyshgorod, uma cidade próxima à capital ucraniana Kiev. Alguns parentes, como o pai e a mãe, ela encontra presencialmente todos os dias. Contudo, ela explica que os ucranianos também têm tentado contato com pessoas de cidades mais atacadas pelo exército russo.
“Começamos o dia conferindo as notícias, chamando todos da família que ainda ficam aqui, conferindo se ainda estão todos vivos, tentando nos comunicar com as pessoas que ficam nessas cidades bombardeadas, mas é um desespero”, relata Olga, que é professora e consultora em meios de comunicação.
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Dormir, para Olga, inclusive, tem sido tão difícil quanto acordar. O cotidiano de guerra abala a saúde mental, e consequências como insônia e ansiedade são alguns dos impactos sofridos por ela.
“Eu não consigo dormir porque tenho muita ansiedade. No máximo, posso dormir três horas por dia. Nos primeiros dias eu não dormia, mas conseguia seguir em frente. Mas agora a ansiedade e o cansaço já estão muito fortes”, lamenta a professora.
“Agora estamos vivendo momentos dramáticos, porque as cidades estão sendo bombardeadas há duas semanas. As pessoas estão cercadas, não podem sair, não podem receber ajuda. Tem crianças morrendo por desidratação, falta de água”, relata Olga.
Olga explica que a cidade onde ela mora está fora da zona de fogo traçada pelo exército russo, já que fica cercada por duas pontes minadas. Por isso, muitos ucranianos têm voltado a atenção especialmente para os locais mais bombardeados.
“Eles estão incomunicáveis por muitos dias já, não têm eletricidade e não podem nem carregar o telefone para fazer ligações. Não sabemos se estão vivos ou mortos”, disse a professora.
Contudo, a rotina onde ela mora está afetada pela guerra mesmo sem sofrer ataques russos. Para ela, a situação piora a cada dia, desde o começo da guerra na Ucrânia.
Olga explica que a cidade tem toque de recolher das 20h às 7h, que não pode sair sem necessidade e a recomendação é evitar locais longe de onde mora. Também há orientação para não andar em locais fechados, como florestas, onde pode haver soldados russos.
Ela relata que a população segue atenta aos alarmes sobre ataques, e que eles precisam saber onde ficam os refúgios antibombas. Ela, inclusive, dormiu em um desses pontos na última segunda-feira (7).
“Temos que sempre estar atentos aos alarmes, porque a qualquer momento podemos ter ataques aéreos e temos de descer para o refúgio antibomba”, comenta a ucraniana. Ela informou que boa parte do comércio segue fechada, que apenas farmácias e algumas lojas específicas abrem para poder comercializar itens mais necessários.
Olga disse que sua mãe segue dormindo no refúgio; disse ainda que consegue ver o pai às vezes, quando ele encerra o turno de guarda que realiza. Sua irmã conseguiu fugir para outro país com a sobrinha.