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Quatro anos depois de incêndio, Museu Nacional ressurge das cinzas e está de ‘cara nova’

Fachada e jardim frontal do palácio, na Quinta da Boa Vista, serão reinaugurados. Mas as obras devem se estender até 2026

Por Selma Schmidt

01/09/2022 04h31  Atualizado há 9 minutos

Na noite de 2 de setembro de 2018, um incêndio destruiu o prédio do Museu Nacional, 85% dos 20 milhões de itens do seu acervo e muito da história brasileira. A reconstrução do Palácio de São Cristóvão, que abriga o museu, na Quinta da Boa Vista, ainda deve se prolongar até 2026. Mas, depois das chamas, e, em seguida, de andaimes, telas e tapumes, o cenário começa a mudar. Quatro anos após a tragédia, a fachada amarela do principal bloco do complexo, com 31 esculturas no topo, será reinaugurada nesta sexta-feira. A conclusão da primeira etapa das obras, que inclui a recuperação do jardim em frente à construção, faz parte das comemorações do bicentenário da Independência do Brasil.

Também nesta sexta-feira serão inauguradas exposições fotográficas de esculturas, memórias e minerais, em tendas montadas numas das laterais do jardim. Já as peças colocadas na fachada do prédio são réplicas. As originais, em mármore de carrara e pesando entre 200 e 300 quilos, estão sendo restauradas, devendo ganhar lugar dentro do museu.

As obras de reconstrução da mais antiga instituição científica do país — celebrou 204 anos em 6 de junho — começaram em novembro de 2021. Antes, os serviços se limitaram a escoramento, instalação de telhado provisório, busca por relíquias sob os escombros e elaboração de projetos. Com verbas públicas curtas, foi feita uma campanha para doações e parcerias, sendo os valores geridos pela Associação Amigos do Museu Nacional.

O site do projeto Museu Nacional Vive informa que foram captados, até agora, R$ 244 milhões. Há, segundo a instituição, mais de três mil pessoas físicas benfeitoras e 11 parceiros institucionais, incluindo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), o BNDES, o Bradesco e a Vale.

— Estamos trabalhando para que as obras deslanchem — diz a reitora da UFRJ (a quem o museu é vinculado), Denise Pires de Carvalho.

‘Quintal dos cariocas’

O chamado jardim-terraço do palácio foi revitalizado pela prefeitura, como parte da recuperação da Quinta da Boa Vista, onde estão sendo investidos R$ 14,6 milhões. No jardim, a Secretaria municipal de Conservação reformou muro, balaustrada, postes de ferro, caminhos e vasos em argamassa e estuque. Nos canteiros, foram feitas a limpeza e a recomposição da vegetação.

— A Quinta da Boa Vista foi residência da Família Real e se tornou o quintal de todos os cariocas.— destaca a secretária Anna Laura Secco.

Hoje assíduos frequentadores da Quinta da Boa Vista, a arquiteta Adhora Santos e o marido, o estatístico Iago Carvalho, ambos de 33 anos, eram recém moradores de São Cristóvão e estavam viajando em lua de mel quando o Museu Nacional pegou fogo. Adhora chegou a visitar, no passado, o museu. Mas Iago ainda não:

— Tenho que me limitar a ver a fachada do palácio e o seu jardim frontal. Pelo visto, as obras vão demorar.

O garçom cearense Francisco Fábio Alves é outro que vai ter esperar. Ele chegou ao Rio em março do ano passado. Quase todos os dias, corta a Quinta para ir de casa, em São Cristóvão, até o trabalho, no Maracanã.

— Quando olho para o museu, me dá curiosidade para saber o que tinha ali.

O museu tinha uma das mais completas coleções de fósseis de dinossauros do mundo, múmias egípcias e artefatos da arqueologia brasileira. Era especializado em estudos de paleontologia, antropologia, geologia, zoologia, arqueologia e etnologia biológica. Um núcleo de resgate, formado por funcionários da instituição, conseguiu achar, em meio aos escombros, ossos de múmias egípcias e amuletos de metal que estavam nos sarcófagos. Um feito comemorado foi encontrar fragmentos de ossos do crânio de Luzia, fóssil humano mais antigo localizado na América do Sul.

O historiador Rafael Mattoso lembra que o Palácio São Cristóvão pertencia a Elias Antônio Lopes, um comerciante português que enriqueceu com o tráfico negreiro. Com a chegada da família real, em 1808, foi cedido para moradia, “em troca de concessões, influência na Corte e títulos”.

— O Museu Nacional foi fundado por Dom João VI em 1818, com o nome de Museu Real, com acervos trazidos pela Corte. Ele só vai se chamar Museu Nacional em 1822, a partir da Independência. Inicialmente se instalou no Campo de Santana, se mudando para o Palácio São Cristóvão em 1892 — acrescenta ele.

A reinauguração parcial do palácio ocorre em meio a uma auditoria, feita pelo Tribunal de Contas da União (TCU), para investigar a lisura dos contratos celebrados após o incêndio e a capacidade de execução das empresas contratadas. A fiscalização, pedida por deputados, começou em abril deste ano e tem prazo até março de 2023. Outro processo em andamento no TCU é motivado por uma representação formulada pelo Ministério Público do tribunal “a cerca de supostas irregularidades administrativas envolvendo a recuperação do museu.”

Mais dois processos do TCU que tratam do museu já têm acórdão. Num deles o tribunal não viu “conduta dolosa” ou “erro grosseiro” dos gestores do Museu Nacional e da Universidade Federal do Rio de Janeiro no incêndio. O órgão não afastou as falhas no museu, mas concluiu que elas aconteceram em decorrência da falta de recursos. No segundo acórdão, o TCU autoriza a auditoria nos contratos celebrados após o incêndio.

Por e-mail, a diretoria da Associação de Amigos do Museu Nacional “reafirma seu firme compromisso com uma gestão de plena transparência e repudia toda e qualquer insinuação relacionada à seriedade com que conduz os processos relacionados à reconstrução do Paço de São Cristóvão e às demais atividades do Museu Nacional.”  Diz ainda que, neste momento, “não há qualquer pendência em relação aos órgãos de fiscalização”.

Colaborou: Carmélio Dias

Fonte: Selma Schmidt

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