Como dívidas de quase R$ 100 milhões a curto prazo levaram o Fluminense a vender Luiz Henrique
Montante já gerou atrasos salariais e há o risco de proibição de contratação e até mesmo a perda de pontos no Brasileiro caso obrigações não sejam quitadasMarcello Neves15/03/2022 – 02:30 / Atualizado em 15/03/2022 – 08:28
O presidente Mário Bittencourt classificou a negociação de Luiz Henrique com o Betis-ESP como uma “medida impopular” visando a “reestruturação” do Fluminense. Não mentiu. Mas apesar da reação negativa do torcedor, entender as dívidas a curto prazo do Fluminense são caminhos difíceis, mas necessários. A encaminhada saída por até 13 milhões de euros (cerca de R$ 73 milhões) é tratada como o gancho que fará o clube não se asfixiar de imediato.
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A lógica para a venda de Luiz Henrique, além de financeira, também é matemática. Até agosto de 2022, quando fecha a janela de transferência do meio do ano, o Fluminense terá que pagar R$ 97,5 milhões apenas em dívidas parceladas que O GLOBO teve acesso e traz detalhes. Entre outros motivos, isso explica por que o tricolor não pôde esperar mais para vender o atacante.
Problemas na Fifa
Um dos problemas são as dívidas internacionais que vencem nas próximas semanas: as compras de Junior Sornoza e Jefferson Orejuela, em 2016, na gestão Peter Siemsen, junto ao Independiente del Valle-EQU. Em março, R$ 3 milhões terão que ser desembolsados pelo Fluminense. Já em maio e junho, o valor aumentará para R$ 5 milhões. Devido a esta conta em aberto, há o risco de proibição de realizar contratações e até mesmo a possibilidade de perda de pontos no Campeonato Brasileiro.
Regime de Centralização e Profut
O Fluminense também entrou no Regime de Centralização de Execuções, que foi obtido tanto na Justiça do Trabalho quanto na Cível. Os pagamentos começam em abril e estão orçados em R$ 1,5 milhão por mês. Caso não mantenha a regularidade de pagamento, poderá voltar a ter as suas receitas asfixiadas com penhoras como antes. Já no Profut, as parcelas são de R$ 2 milhões mensais.
Salários atrasados e Maracanã
Aliado a isso, os salários do mês de fevereiro estão atrasados e os de março estão por vencer, algo em torno de R$ 9 milhões — além da folha do elenco, soma-se funcionários e prestadores de serviço — além de parcelas do 13º. O clube também irá participar da licitação do Maracanã e terá que fazer entrada de um alto valor ainda a ser definido. Estima-se algo entre R$ 3 e R$ 6 milhões.
Somando todos esses parcelamentos de março até agosto, o valor é de R$ 97,5 milhões a serem pagos pelo Fluminense apenas em dívidas de curto prazo. Em linhas gerais, os R$ 73 milhões de Luiz Henrique ajudam, mas não completam o pagamento. Ainda sim, a curto prazo, servem para não atrasar salários e cumprir obrigações judiciais.
O restante do valor será obtido com outras receitas, como renda de seus jogos e aumento do sócio-torcedor.
Cota comprometida
Para o Brasileirão, o tricolor tem mais um problema. No total, 50% da cota fixa de televisão já está comprometida com o pagamento de dívidas antigas com o Banco BMG, vinda de gestões passadas. Do total de R$ 48 milhões cobrados pelo banco, R$ 30 milhões já foram quitados. Devido à rescisão contratual do Campeonato Carioca, o clube também não conta com receitas televisas nos primeiros quatro meses do ano.