Estratégia militar de Putin na Ucrânia: os russos ’empacaram’? Onde querem chegar? Especialistas analisam
Especialistas apontam no que os russos foram bem-sucedidos até o momento e o que pode ter obrigado a reverem suas estratégias. Segundo eles, é natural que se reveja os planos de confronto durante o desenrolar das operações.
Por Felipe Gutierrez, g1
19/03/2022 05h00 Atualizado há 4 horas
Depois de 24 dias de guerra na Ucrânia, a Rússia conquistou apenas uma grande cidade, Kherson. Os russos ainda não foram capazes de cercar totalmente a capital da Ucrânia, Kiev, e mesmo cidades que já estão cercadas há dias, como Mariupol, ainda não caíram.
A estratégia russa na Ucrânia deu errado? Especialistas em confronto militar ouvidos pelo g1 afirmam que não dá pra dizer isso. É preciso, dizem eles, colocar em contexto algumas condições, como o extenso tamanho do território da Ucrânia e o tempo que os ucranianos tiveram para se preparar para responder os invasores.
Depois de 24 dias de guerra na Ucrânia, a Rússia conquistou apenas uma grande cidade, Kherson. Os russos ainda não foram capazes de cercar totalmente a capital da Ucrânia, Kiev, e mesmo cidades que já estão cercadas há dias, como Mariupol, ainda não caíram.
A estratégia russa na Ucrânia deu errado? Especialistas em confronto militar ouvidos pelo g1 afirmam que não dá pra dizer isso. É preciso, dizem eles, colocar em contexto algumas condições, como o extenso tamanho do território da Ucrânia e o tempo que os ucranianos tiveram para se preparar para responder os invasores.
Os dois objetivos militares russos mais importantes, segundo Ronaldo Carmona, pesquisador do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), são os seguintes:
- conquistar Kiev;
- dominar a costa do Mar Negro.
Kiev, claro, é a capital do país. O segundo objetivo é mais estratégico por várias razões: o Mar Negro é um gargalo para a esquadra russa. Os russos têm as águas geladas em seu litoral no norte, mas o acesso às águas do Mediterrâneo se dá pelo Mar Negro, cujo domínio é importante para consolidarem seu poder naval para vários fins.
Os russos empacaram?
Relatórios de inteligência de países como o Reino Unido afirmam que os russos enfrentam dificuldades não previstas e que, a essa altura, imaginavam já ter conquistado o controle da Ucrânia.
Mas não é bem assim, diz Carmona. Os russos estão sendo relativamente bem-sucedidos no cerco a Kiev, opina: “Nenhuma grande cidade sitiada, sem armas, sem luz, sem gêneros alimentícios sobrevive muito tempo. É um passo para Kiev colapsar –já se cogita transferir a sede de governo para Lviv. Dificilmente os russos vão tentar fazer um combate de rua a rua, de casa a casa. Na história militar dos russos há a batalha de Stalingrado, os nazistas entraram nessa, rua por rua, casa por casa, e foram derrotados pelo Exército Vermelho.”
A conquista da Ucrânia é complexa por vários fatores. Carmona destaca dois:
- O tamanho do país, um território de área semelhante ao do estado de Minas Gerais;
- O tempo que os ucranianos tiveram para se preparar.
“A imprensa ocidental fala desde o ano passado que poderia haver uma invasão, era claro de onde viria a invasão. Além disso, a Otan vem treinando e oferecendo armamento complexo para as forças ucranianas há tempos”, afirma ele.
No começo houve a impressão de que os russos poderiam tentar uma blitzkrieg, um avanço muito rápido, mas isso só é possível em terreno onde há menos resistência, e não é o caso, diz ele: “Essa invasão estava escrita nas estrelas, os ucranianos têm o aparato da Otan e dos EUA como assessores militares, é natural que os russos não consigam progredir rapidamente”, afirma ele.
A sensação de lentidão e de que pode ter havido um erro estratégico dos russos se deve em parte ao fato de que os combates em áreas urbanas têm essa dinâmica mais lenta, porque é necessário aproximar as tropas para investir sobre os centros urbanos, afirmam Carlos Frederico e o coronel Alexandre Moreira, da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército do Brasil.