Sem Telegram, Bolsonaro pode perder em divulgação e coordenação de estratégia nas redes, dizem especialistas
Presidente tenta frequentemente atrair seguidores para o seu canal na plataforma, em que conta com mais de um milhão de inscritosLucas Mathias19/03/2022 – 04:30
RIO — O presidente Jair Bolsonaro (PL) é, com larga vantagem, o líder entre os pré-candidatos ao Planalto, se o critério for o Telegram: ele conta com mais de 1 milhão de inscritos em seu canal. Com o bloqueio do aplicativo, portanto, é também ele quem sofre maior impacto. Assim analisam os especialistas em redes sociais ouvidos pelo GLOBO, que destacam dois dos pontos mais críticos para o chefe do Executivo, após a determinação do Supremo Tribunal Federal (STF): a divulgação de conteúdo e a coordenação da narrativa nas redes.
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Com uma filosofia de mínima moderação, o Telegram é considerado um terreno mais fértil a campanhas de desinformação e discurso de ódio. Além disso, o aplicativo permite grupos com 200 mil pessoas e compartilhamento irrestrito. Já os canais, ferramentas para transmitir mensagens, têm número ilimitado de inscritos. Por essas características, Bolsonaro compartilha frequentemente o link de seu canal em outras redes, na tentativa de que seus seguidores migrem para o Telegram. Desde o início deste ano, por exemplo, o presidente publicou 23 tuítes com links que levavam o usuário à sua conta na plataforma.
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Este movimento acontece, segundo Pedro Bruzzi, sócio da consultoria Arquimedes, em razão da capacidade de coordenação de narrativas que existe no Telegram. Para ele, é neste ponto em que Bolsonaro vai sofrer maior impacto, com a suspensão da plataforma.
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— O Telegram facilita isso, em comparação a outras redes. É um canal de coordenação e de divulgação de argumentos e narrativas muito bem estabelecido, a ponto do próprio Bolsonaro divulgar o canal dele no Telegram em seu perfil no Twitter. Não divulgaria se não tivesse uma atuação planejada — diz.
— Vale destacar que os bolsonaristas já vinham sofrendo com a coordenação dos argumentos contra a crise econômica, por exemplo. Perder um canal em que eles tinham ampla vantagem pode ser uma perda importante neste momento delicado — completa Bruzzi.
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Outra característica própria do Telegram, destacada por Bruzzi, é a dinâmica dos canais, onde a interação dos receptores com o emissor das informações é mínima, enquanto em redes como o Twitter, críticas e questionamentos ficam explícitos nos comentários.
— É um canal de comunicação direta em que Bolsonaro consegue falar com um volume muito grande de pessoas sem a interferência de outros. Não dá para interagir tanto no canal dele, ele não sofre ataques da oposição, por exemplo — afirma.