Indecisos somam 10%, mas podem definir resultado presidencial: conheça as histórias de dez eleitores
Reportagem do GLOBO acompanhou eleitores por cinco meses para identificar como se comportavam e se, até o dia da eleição, decidiriam em quem votar
Por Eduardo Graça — São Paulo
28/09/2022 01h04 Atualizado há 4 horas
Eles são poucos, mas podem decidir se a corrida ao Planalto termina domingo. Mesmo com o nível mais baixo de indecisos desde 1989, os 10% que responderam “não sei” na pergunta espontânea para presidente na última pesquisa Ipec são suficientes para mudar as eleições —Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teve 52% dos votos válidos, contra 34% de Jair Bolsonaro (PL), e, para não haver segundo turno, o primeiro colocado precisa de 50% mais um.
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Desde maio, O GLOBO acompanha dez eleitores indecisos, em todo o país, selecionados para refletir o perfil desse grupo, mais concentrado entre mulheres, menor escolaridade e renda mais baixa. Cinco meses depois, apenas três se decidiram: dois apertarão o 22 de Bolsonaro e uma o 13 de Lula. Os outros sete dizem que não anularão o voto, mas ainda não sabem em quem confiar o comando do Executivo.
— Estou entre Lula e Ciro (Gomes). Baterei o martelo após o debate (da TV Globo, amanhã) — diz Rejane da Silva, 52 anos, de Porto Alegre.
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Mãe de dois filhos, separada, cuidadora de idosos e no fim do curso técnico de enfermagem, a “brizolista-raiz” diz ter buscado, sem sucesso, “a pegada do engenheiro” nos candidatos. Domingo, no Rio, Lula disse que, se vivo, “Brizola estaria do nosso lado”. O gaúcho disputou a Presidência contra o petista em 1989 e foi vice de sua chapa em 1998.
— Pesará (na decisão) se acreditar que meu voto ajudará a derrotar Bolsonaro no primeiro turno. Perdi uma irmã pra Covid-19, a resposta dele à pandemia foi terrível— diz Rejane. — E o machismo não dá. Seus ataques às jornalistas e não ter ido à posse da juíza Rosa Weber na Presidência do STF foram as gotas d’água.
A pesquisa do Ipec divulgada na segunda-feira revelou que o índice de indecisos no questionamento espontâneo é maior entre mulheres (13%) do que entre homens (6%). Também identificou que há mais eleitores sem candidato certo à Presidência com renda familiar de até um salário mínimo (12%) e que completaram apenas o ensino fundamental (12%). (veja no gráfico acima)
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— Como o segundo turno está por um fio de cabelo, entender como conquistar esses “indecisos até a última semana” tornou-se crucial — diz Renato Dorgan, diretor do Instituto Travessia e que selecionou com sua equipe os eleitores em todo o país para a reportagem. — Com a desidratação do Ciro Gomes por causa da campanha de voto útil do PT, a tendência é a de que esses votos serão divididos entre Lula, Bolsonaro e, para os que não conseguirem escolher entre o menos pior no entendimento deles, Simone Tebet (MDB). A questão é em que proporção — diz.
Neste cenário, estados com fatia modesta do eleitorado, como Mato Grosso e Amazonas, podem, alerta Dorgan, ter relevância inédita. Um dos ex-indecisos que repetirão o voto em Bolsonaro é o auxiliar financeiro João Vitor de Oliveira, de 22 anos, de Cuiabá. Evangélico, branco, curso superior completo, ele tinha torcido o nariz para “a inconsistência na escolha de ministros e de cargos no comando da Petrobras” e “reviravoltas, especialmente a saída do (ministro da Justiça) Sergio Moro do governo”. Mas, em setembro, uma “economia mais forte” e a pauta de valores o fizeram decidir.
— Princípios como liberdade religiosa e a defesa da família (tradicional) eu não negocio. E Bolsonaro reconheceu erros, como os do combate à pandemia, baixou o preço da gasolina e se tornou um candidato melhor ainda — diz.
Assim como o mato-grossense, o corretor Allan Alencar, de 50 anos, de São Bernardo do Campo (SP), decidiu por Bolsonaro. Eleitor de João Amoêdo (Novo), e do atual presidente no segundo turno em 2018, pesou em sua decisão o “alavancar da economia durante a pandemia” e evitar “a roubalheira do PT”.
Busca em vão pelo novo
Já o funcionário público José Elinaldo da Silva, de 53 anos, de Manaus, pai de sete filhos de dois casamentos, pardo, com ensino médio completo e renda familiar de cerca de R$ 4 mil, trocou o PT por Bolsonaro em 2018 e viu “as coisas não darem certo”. Está entre os que buscavam o novo, mas não encontrou. Entre as preocupações está o aumento da sensação térmica, “por causa do desmatamento”.
— Vi o efeito da destruição da floresta e do desastroso combate à pandemia em primeira mão. E a economia piorou muito. Mas não acho que a saída seja voltar ao passado. Tendo a votar no Ciro, mas decidirei após o debate — diz.
A escalação dos indecisos que o GLOBO acompanhou se deu de acordo com distribuição geográfica, renda, gênero, raça e religião, a partir do perfil de eleitores declaradamente sem candidatos à Presidência. Entre eles, nenhum considerou votar em Tebet. Livia Monteiro, de 22 anos, estagiária de serviço social na Defensoria Pública de São Paulo e moradora da Zona Leste, conta ter “buscado, mas não encontrado, propostas novas”. Ela está em dúvida entre Lula e Léo Péricles, do Unidade Popular (UP), que não pontua nas pesquisas.
— Lula e Bolsonaro representam o passado. A pressão dos petistas pela decisão no primeiro turno não me afeta, recolocar o PT no poder me desmotiva, mas acabarei votando, agora ou no segundo turno, no menos pior — diz.
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Já Cristiana Ferreira, de 41 anos, de Cabo Frio, votou em Bolsonaro para tirar o PT. Evangélica, desempregada, hoje vivendo com renda de um salário mínimo que o marido tira como motorista de aplicativo, se arrependeu e nem pronuncia mais o nome do presidente.
— Estava muito ruim com o PT, ele parecia ser o novo, não pesquisei a fundo, e acabei cometendo um erro. Hoje, quando ele aparece na TV, depois de tudo o que disse na pandemia, sinto asco. Ia votar no Ciro, mas mudei: para ‘aquela pessoa’ não seguir no comando, vou de Lula, ainda que com frio na barriga de fazer, de novo, de certa forma, o mesmo que em 2018.
Estratégia final
Entre os indecisos, há também os que debatem, distantes da polarização ideológica, se votarão em Lula ou Bolsonaro, como Diana de Jesus, de 27 anos, de Salvador, e Suelen da Silva, 38, do Distrito Federal. Supervisora de vendas, católica, casada e com uma filha de 7 anos, a moradora de Samambaia conta que pende para Bolsonaro, recebeu auxílio na pandemia (“fundamental para minha família”), mas se incomoda com seu “jeito grosseiro”. Autônoma, evangélica, negra e com uma filha de 8 anos, a baiana, conta que em sua igreja a maioria vota em Bolsonaro, “mas apenas por ele se dizer mais cristão”.
— Roubar, todos roubam. Votaria no Lula, mas tem a questão da religião. O machismo (de Bolsonaro) me incomoda muito. Verei o debate — diz Diana.
Dorgan crê que Lula deveria investir nos rincões mais pobres, onde redes sociais são “menos políticas e mais povoadas por subcelebridades”, e em “estados fronteiriços” do Sul, Centro-Oeste e Norte, onde Bolsonaro lidera. Para o presidente, a saída, segundo ele, parece ser a de grudar em candidatos competitivos, como Tereza Cristina (União-MS), Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) e Anderson Ferreira (PL-PE).
Fonte: Eduardo Graça — São Paulo