fbpx

Menu

Site desenvolvido por Ligado na Net :

O que explica teste negativo em tantos infectados por covid

Nos últimos meses, uma cena tem se tornado cada vez mais comum no Brasil e no mundo: a pessoa começa a apresentar sintomas típicos de covid, faz o teste rápido de antígeno e o resultado dá negativo; entenda

  • ANDRÉ BIERNATH – @ANDRE_BIERNATH
  • DA BBC NEWS BRASIL EM LONDRES

01 JUL 2022 – 09H00 ATUALIZADO EM 01 JUL 2022 – 09H09

Nos últimos meses, uma cena tem se tornado cada vez mais comum no Brasil e no mundo: a pessoa começa a apresentar sintomas típicos de covid (tosse, coriza, febre…), faz o teste rápido de antígeno e o resultado dá negativo.

Ela continua a ter os incômodos e, um ou dois dias depois, repete o exame que, aí sim, confirma a infecção pelo coronavírus.

‘+ Pandemônio de viroses’: como pandemia de covid mudou padrões de vírus conhecidos

+ Testes rápidos para covid são confiáveis? O que revelam pesquisas nos EUA

O grande perigo é que, nesse meio tempo sem o diagnóstico adequado, não são adotadas as medidas necessárias para reduzir o risco de passar o vírus adiante — como o isolamento e o uso de máscaras.

Isso, por sua vez, cria novas cadeias de transmissão e faz o número de casos da doença crescer.

Mas o que explica esse fenômeno da “positividade atrasada”? Embora não existam respostas claras, especialistas ouvidos pela BBC News Brasil citam as hipóteses que ajudam a entender esse cenário. Eles também apontam o que fazer para proteger a si e todo mundo ao redor.

Em resumo, apesar de o assunto estar envolvido em muitos mistérios, a recomendação é simples: se você apresentar sintomas típicos de covid, fique em isolamento e evite o contato com algumas pessoas, mesmo se o teste rápido de antígeno feito no primeiro ou no segundo dia der um resultado negativo. E, se possível, tente repetir o exame entre o terceiro e o quinto dia para ter mais certeza sobre o diagnóstico.

O vírus ficou mais veloz?

O primeiro fator que permite explicar esse cenário é a chegada das novas variantes do coronavírus, especialmente aquelas que surgiram a partir da ômicron, como a BA.2 e a BA.5.

O espalhamento delas mundo afora veio seguida de uma mudança importante na incubação, que é o tempo entre o vírus começar a invadir as células do nosso corpo e o início dos sintomas.

“O vírus entra nas células e faz ali dentro entre cem e mil novas cópias de si mesmo, que vão sair para infectar outras células e continuar esse processo, até que o sistema imunológico reaja e cause os sintomas, como nariz escorrendo, espirros, febres…”, explica o virologista José Eduardo Levi, coordenador de pesquisa e desenvolvimento da Dasa.

A título de comparação, de acordo com um relatório da Agência de Segurança em Saúde do Reino Unido, a incubação da variante alfa durava, em média, de cinco a seis dias.

Durante a onda da delta, essa janela caiu para quatro dias.

Já na ômicron, o período entre a invasão viral e o início dos sintomas sofreu uma nova redução e fica em apenas três dias.

Ou seja: se antes a pessoa tinha contato com alguém infectado e levava quase uma semana para manifestar os sinais típicos da covid, atualmente esse processo é bem mais rápido e pode acontecer quase de um dia para o outro.

“O que mais vemos em nossos consultórios são pacientes que dizem ter passeado no domingo e já apresentam os sintomas da doença na terça ou na quarta-feira”, conta a infectologista e virologista Nancy Bellei, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Mas por que isso está acontecendo?

Vírus diferente, defesas atualizadas

Entre as possíveis teorias que ajudam a entender essa ação mais ligeira da ômicron, alguns especialistas apontam que as próprias mutações genéticas que essa variante carrega encurtaram o tempo de incubação.

Outros também chamam a atenção para o papel do sistema imunológico nesse processo.

Numa série de postagens no Twitter, o imunologista e epidemiologista Michael Mina, que trabalhava na Universidade Harvard, nos Estados Unidos, e atualmente é o diretor científico de uma empresa de testagem, defende que a vacinação “mudou de forma fundamental a relação entre os sintomas de covid e a carga viral”.

Anteriormente, os sintomas da covid costumavam aparecer justamente no momento em que a quantidade de vírus no organismo atingia o pico.

“Por que as pessoas agora estão apresentando sintomas, mas o resultado do teste rápido dá negativo?”, questionou.

“Os sintomas que sentimos são geralmente o resultado da resposta imune. As vacinas fazem o nosso sistema de defesa detectar o vírus mais rápido, antes que a quantidade de cópias dele atinja o pico. Esse é literalmente o propósito da vacinação”, escreveu ele na rede social.

Seguindo na explicação, Mina aponta que a resposta imune rápida ajuda a suprimir o vírus por um tempo, até que o patógeno seja eliminado do organismo ou eventualmente consiga vencer essa batalha e comece a se replicar com mais força.

“Com isso, um teste criado para detectar uma certa quantidade de vírus será negativo nos primeiros dias, antes que a carga viral aumente”, argumentou o cientista.

Em outras palavras, uma das teorias aventadas aponta que, com a ômicron, o tempo de incubação curto e o aparecimento de sintomas mais cedo faz com que a carga viral (a quantidade de coronavírus em ação) logo nos primeiros dias de infecção não seja alta o suficiente para ser detectada pelos testes rápidos de antígeno.

Mas vale ressaltar que essa é apenas uma das possíveis explicações para esse fenômeno e a ideia está longe de estar comprovada ou ser consenso entre os especialistas.

“O sistema imune também depende de uma certa quantidade de partículas virais para ser ativado e iniciar uma resposta. Então, me parece que a imunidade criada a partir da vacinação ou de quadros prévios de covid vai contribuir mais para terminar rapidamente a infecção do que para o início do quadro”, avalia Levi, que também faz pesquisas no Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo (USP).

Em todo caso, existem evidências de que a quantidade de proteínas virais nesses primeiros dias de infecção realmente pode ser mais baixa nas ondas da ômicron.

“Com isso, há um risco de os testes de antígeno falharem na detecção desses casos, já que não existem partículas suficientes para obter um resultado positivo”, resume o virologista Anderson F. Brito, pesquisador científico do Instituto Todos pela Saúde.

“Portanto, temos que tomar cuidado na interpretação desses resultados iniciais, até para não criarmos uma falsa sensação de segurança”, adverte.

Falha humana e interpretação dos testes

Ainda dentro dessa discussão, não dá pra ignorar o fator humano por trás de erros nos resultados.

O teste de antígeno, que pode ser feito em casa pela próxima pessoa, tem uma série de procedimentos bem específicos — separar os materiais, lavar as mãos, passar a haste no fundo do nariz e da garganta por um tempo mínimo, misturar com soro, esperar alguns minutos, pingar a quantidade exata no dispositivo…

Se uma dessas etapas não é feita da maneira adequada, o resultado pode ser um falso negativo.

“Não dá pra confiar na conclusão de um teste mal feito”, diz Bellei, que também integra a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).

A médica destaca a variação da qualidade dos exames disponíveis nas farmácias.

Fonte: ANDRÉ BIERNATH – @ANDRE_BIERNATH, DA BBC NEWS BRASIL EM LONDRES

https://epocanegocios.globo.com/Vida/noticia/2022/07/o-que-explica-teste-negativo-em-tantos-infectados-por-covid.html