Polícia pede prisão preventiva de aluna da USP que desviou quase R$ 1 milhão de formandos de medicina; Justiça de SP analisa
Alicia Dudy Muller é alvo de inquéritos policiais. Valor de R$ 927 mil pago por estudantes de medicina para formatura foi usado para fins pessoais da investigada, como aluguel de imóvel, veículo e eletrônicos.
Por g1 SP e TV Globo — São Paulo
31/01/2023 07h08 Atualizado há 5 minutos
A Polícia Civil de São Paulo pediu à Justiça a prisão preventiva da estudante de medicina da USP Alicia Dudy Muller Veiga, de 25 anos. A aluna da Universidade de São Paulo é investigada por desviar R$ 937 mil da formatura da turma. O dinheiro seria usado para a festa dos formandos do curso.
Nesta segunda-feira (30) ela foi indiciada pela polícia por ter cometido nove vezes o crime de apropriação indébita e concurso material. O inquérito foi relatado pelo 16º Distrito Policial (DP), Vila Clementino, para o Ministério Público (MP) que irá se manifestar e a Justiça decidir.
Secretaria da Segurança
Até a última atualização desta reportagem não havia uma decisão a respeito, segundo informou a Secretaria da Segurança Pública (SSP), nesta terça-feira (31).
“O caso foi investigado por meio de inquérito policial instaurado pelo 16º Distrito Policial (Vila Clementino). O procedimento foi relatado ao Poder Judiciário na última sexta-feira (27) com o indiciamento da autora por nove apropriações em concurso material. A autoridade policial representou pela prisão preventiva da autora, que está sob análise da Justiça”, informa comunicado da pasta da Segurança enviado ao g1.
A SSP não explicou, no entanto, quais foram os motivos que levaram a investigação a pedir a prisão de Alicia.
Ministério Público
O g1 também procurou o Ministério Público e o Tribunal de Justiça para comentarem o assunto.
Por meio de nota, o MP comunicou que vai analisar as informações apresentadas pela polícia para “firmar a sua convicção a respeito dos fatos, o que poderá ensejar o oferecimento de denúncia” ou investigações complementares.
O TJ não havia se pronunciado até a última atualização desta reportagem.
Defesa
O g1 não conseguiu localizar Alicia para comentar o assunto. Procurada pela reportagem, a defesa de Alicia divulgou nota à imprensa para informar que não há motivos para a polícia pedir a prisão da estudante.
“De acordo com entendimento pacífico do Superior Tribunal de Justiça, dada a natureza excepcional da prisão preventiva, ela só pode ser aplicada quando evidenciado o preenchimento dos requisitos do artigo 312 do Código de Processo Penal, e por ser medida excepcional, somente é DECRETÁVEL EM CASOS DE EXTREMA NECESSIDADE E CONDICIONADA a uma daquelas circunstâncias de referido artigo. Os fundamentos apresentados são vagos e por isso não são válidos para justificar o pedido da prisão preventiva, porque nada dizem sobre a real periculosidade da acusada, que SOMENTE PODE SER DECIFRADA À LUZ DE ELEMENTOS CONCRETOS constantes em referido procedimento investigativo! A Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça já se posicionou no sentido de que “a simples invocação da gravidade genérica do delito ou da necessidade da medida para aprofundar as investigações, SEM APONTAR QUALQUER FATO EFETIVO E CONCRETO, não se revela suficiente para autorizar a segregação cautelar com fundamento na garantia da ordem pública”. Como a jurisprudência do STJ também estabelece que a presença de condições pessoais favoráveis, como primariedade e bons antecedentes, IMPEDE, POR SI SÓ, a decretação da prisão preventiva, a defesa está confiante no indeferimento de referido pedido”, informa trecho do comunicado assinado pelo advogado Sérgio Ricardo Stocco Caodaglio Giolo.
O caso
Na semana passada, investigadores do 16º Distrito Policial apreenderam aparelhos eletrônicos, um carro alugado por Alicia e um caderno com anotações sobre o crime que teriam sido feitas por ela. A aluna era uma das representantes da comissão de formatura dos estudantes de medicina da USP.
Segundo a delegada Zuleika Gonzalez Araujo, a nova presidente da comissão de formatura foi ouvida na última sexta-feira (27) pela investigação. A testemunha afirmou que Alicia mudou as senhas de acesso ao e-mail da comissão.
A nova presidente contou ainda que o grupo não teve mais acesso às informações e aos avisos da empresa organizadora do evento sobre as transações feitas por Alicia.
Caderno com anotações
Alicia teria feito anotações sobre o caso em caderno — Foto: Reprodução
Nas folhas do caderno, a jovem escreveu sobre situações que seriam relacionadas a um suposto arrependimento e, também, à frustração ao não conseguir recuperar o dinheiro (veja abaixo).
Anotações que teriam sido feitas por Alicia — Foto: Reprodução
Comprovantes de Loteria
Ao todo, a investigação achou no apartamento da estudante 17 comprovantes referentes a quantias que havia ganhado na loteria. No entanto, ela teria perdido mais dinheiro do que arrecadado. Os bancos em que a estudante tem conta têm 60 dias para encaminhar à polícia a quebra de sigilo autorizada pela Justiça.
O carro alugado pela estudante de medicina e que foi apreendido pela polícia tem registros de infrações de trânsito nos últimos 12 meses, quando o veículo estaria com ela.
Segundo apurado pelo g1, o Nivus, da Volkswagem, foi alugado por 18 meses ao valor mensal de R$ 2.190. Um iPhone teria sido alugado por R$ 3 mil. Tudo foi apreendido.
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Fonte: g1 SP e TV Globo — São Paulo