Veja o que é #FATO ou #FAKE no discurso de Bolsonaro na IX Cúpula das Américas
Presidente brasileiro fez discurso nesta sexta-feira (10) durante o evento em Los Angeles (EUA)
Por Victor Farias e Roney Domingos, g1
11/06/2022 22h07 Atualizado há uma hor
O presidente Jair Bolsonaro fez um discurso nesta sexta-feira (10) na IX Cúpula das Américas em Los Angeles (EUA). Ele defendeu a política ambiental do governo brasileiro e afirmou que há uma “busca incansável” pelo jornalista britânico Dom Phillips e o indigenista brasileiro Bruno Pereira, desaparecidos desde domingo (5) na Amazônia.
A equipe do Fato ou Fake checou as principais declarações de Bolsonaro. Leia:
“Somos um dos países que mais preservam o meio ambiente e suas florestas.”
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#NÃOÉBEMASSIM. Veja o porquê: Nos últimos anos o Brasil tem registrado uma série de recordes de desmatamento. A Amazônia brasileira, por exemplo, registrou 2.287 focos de incêndios florestais em maio, o maior número para o mês em 18 anos, segundo o sistema Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
A área desmatada na Amazônia foi de 13.235 km² entre agosto de 2020 e julho de 2021, de acordo com o último relatório anual do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes), considerado o mais preciso para medir as taxas anuais.
Na edição anterior, o número foi de 10.851 km² entre agosto de 2019 e julho de 2020. Uma alta de 22% entre os dois relatórios – a maior desde 2006.
Segundo dados do Banco Mundial, o Brasil está na 29ª posição no ranking de cobertura vegetal, com 59,4% de cobertura. Estão na frente do Brasil Suriname (97,4%), Finlândia (73,3%), Eslovênia (61,5%) e Zâmbia (60,3%).
Diretora de Ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), Ane Alencar afirma que apesar de o Brasil ter muita floresta, é um país com altas taxas de desmatamento. “Nós somos o país que mais desmata florestas no mundo. A gente tem muita floresta e a gente é um dos países que mais desmata floresta no mundo”, afirma.
Na mesma linha, Roberta del Giudice, Secretária Executiva do Observatório do Código Florestal, afirma que a legislação florestal hoje não é cumprida. “Não adianta a gente ter uma legislação excelente se a gente não aplica ela em campo e se a gente vem reduzindo a proteção”, diz.
“Desde o primeiro momento, naquele mesmo domingo, as nossas Forças Armadas e a Polícia Federal têm se destacado na busca incansável da localização dessas pessoas [o indigenista Bruno Pereira e o jornalista inglês Dom Phillips, que sumiram no dia 5 de maio na Amazônia].”
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A declaração é #FAKE. Veja o porquê: As Forças Armadas e a PF não começaram as buscas no domingo. A resposta federal ao desaparecimento também foi criticada pela ONU e levou a Justiça Federal a determinar reforços nas buscas, citando “omissão da União”.
A declaração é #FAKE. Veja o porquê: O Brasil tem uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo, mas fica atrás de 6 nações, segundo o agregador de dados Our World in Data, com base no estudo “BP Statistical Review of World Energy” de 2021. São elas: França, Suécia, Noruega, Finlândia, Islândia e Suíça. Parte desses países também tem uma matriz energética diversificada — com biocombustíveis, geração nuclear, solar, eólica e por meio de outras tecnologias de baixa emissão de carbono.
Segundo dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) de 2021, 44,7% da energia brasileira veio de fontes renováveis, enquanto a média mundial de 2019 era de 14,1%. Em comparação com os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil tinha uma vantagem ainda maior: a média do grupo era de 11,5% em 2019.
“Mesmo preservando 66% de nossas vegetações nativas e usando apenas 27% do nosso território para pecuária e agricultura, somos uma potência agrícola sustentável.”
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A declaração é #FATO. Veja o porquê: Segundo dados de 2020 da ONG MapBiomas, 31% do território brasileiro é destinado para a agropecuária. Já as florestas ocupam 59,8% do país, enquanto as formações naturais não florestais ocupam 6,6%. Juntas, chegam aos 66% mencionados pelo presidente.
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) também traz dados semelhantes, mas de 2018. Segundo a estatal, 30,2% do território brasileiro é destinado à agropecuária — 8% pastagens nativas, 13,2% pastagens plantadas, 7,8% lavouras e 1,2% florestas plantadas.
Diretor de Justiça Socioambiental do WWF-Brasil, Raul do Valle pondera que, apesar de o Brasil ter mais da metade do território com florestas, é o país que mais desmata no planeta.
“É verdade que o Brasil ainda tem mais da metade do território com florestas, mas é também verdade que somos o país que mais desmata no Planeta, movimento que cresceu enormemente desde que Bolsonaro acabou com a punição a criminosos e enviou ao Congresso projetos de lei que estimulam ainda mais desmatamento. Estamos repetindo com a Amazônia o mesmo erro que cometemos com a Mata Atlântica, que um dia cobriu 20% do país mas foi insistentemente destruída, até sobrar menos de 12% da área original”, afirma, acrescentando:
“O problema é que a Amazônia é a fonte da chuva que irriga praticamente toda a agricultura brasileira e se tiver mais 5% de sua área desmatada – já teve mais de 20% derrubado ou severamente explorado – pode alcançar o ponto de não retorno e começar a secar de maneira irreversível. Isso pode tornar inviável a agricultura no Rio Grande do Sul, por exemplo.”
“Somente no bioma amazônico, 84% da floresta está intacta, abrigando a maior biodiversidade do planeta.”
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#NÃOÉBEMASSIM. Veja o porquê: Dados de 2020 do MapBiomas apontam que o bioma amazônico tem 78,7% de floresta, 6 pontos percentuais abaixo do mencionado pelo presidente. Caso seja acrescentado os 3,7% de vegetação natural não florestal, o número, 82%, chega próximo ao percentual mencionado pelo presidente.
Além disso, o ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e professor da USP, Ricardo Galvão questiona o uso da palavra “intacto”. “O intacto eu não colocaria porque agora eles fazem desmatamento tipo espinha de peixe, vão penetrando na floresta. Eu não colocaria assim, mas realmente na ordem de 20 e poucos por cento nós desmatamos desde a descoberta do Brasil”, comenta.
A parte florestal do bioma, no entanto, tem diminuído nas últimas décadas, enquanto a área destinada à agropecuária cresce. Em 1985, por exemplo, as florestas ocupavam 374 milhões de hectares; em 2020, dado mais recente disponível, ocupavam 330 milhões de hectares, uma redução de 12%. A área destinada à agropecuária, por sua vez, passou de 19 milhões de hectares para 63 milhões de hectares.
Cofundador do Ipam, o pesquisador Paulo Moutinho afirma que a redução da vegetação natural da Amazônia está chegando a um ponto de não retorno. Nesse sentido, apesar de o percentual ainda ser elevado, é preciso mudar o entendimento da métrica.
“Nós estamos perto de quebrar a harmonia em que a floresta permanece, porque à medida que você avança com o desmatamento tem um limiar que dps que você passa a floresta entra por si só em um processo irreversível de degradação”, afirma.
“Somos responsáveis pela emissão de menos de 3% carbono do planeta, mesmo sendo a 10ª economia do mundo”
Fonte: Victor Farias e Roney Domingos, g1