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Cantareira volta para estado de alerta com armazenamento abaixo de 40%; especialista diz que ‘já estamos em crise’

Última projeção do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) indica que reservatório poderá chegar a 26% em setembro caso se mantenha déficit de chuvas de 25%. Níveis baixos já provocam mais tempo de redução de pressão em casas. Sabesp nega e sugere uso consciente.

Por Bárbara Muniz Vieira, g1 SP — São Paulo

02/07/2022 06h00  Atualizado há 26 minutos

O Sistema Cantareira entrou em estado de alerta na sexta-feira (1º), operando com 39,6% da sua capacidade, de acordo com a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). Para especialista, cidade já vive crise hídrica. Sabesp nega.

Na última semana, paulistanos relataram períodos mais longos com as torneiras secas em casa.

O estado de alerta é atingido quando o Cantareira opera com volume igual ou maior que 30% e menor que 40% no último dia do mês. Na quinta-feira (30), o manancial operava com 39,7%. Para ser considerado normal, o volume tem de ser de pelo menos 60%. Considerado o maior reservatório de água da região metropolitana, o Cantareira abastece cerca de 7,2 milhões de pessoas por dia.

O que explica os baixos níveis do Cantareira é o déficit de chuvas, que foi de 25% de janeiro a junho deste ano. Se isso se mantiver, o reservatório pode chegar a setembro com 26% de seu volume, de acordo com a última projeção do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).

Em nota, a Sabesp afirma que não há risco de desabastecimento neste momento na região metropolitana de São Paulo, mas reforça a necessidade do uso consciente da água (veja nota completa abaixo).

Porém, a Companhia reconhece que tem diminuído a pressão da água nas casas para economizar água, o que já caracteriza uma crise de abastecimento, segundo o pesquisador Pedro Luiz Côrtes, professor titular do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da Universidade de São Paulo(USP).

“No meu entendimento, o fato de a Sabesp ter ampliado, em 2021, o programa de redução noturna da pressão na rede de distribuição, dilatando o horário e aumentando o número de bairros atingidos, mostra uma reação ao nível preocupante do Sistema Cantareira. Já estamos vivenciando uma crise, porém diferente. A redução da pressão, com ampliação do horário e dos bairros afetados, é uma forma de rodízio.”

Estado de alerta

Na prática, a determinação da Agência Nacional de Águas (ANA) do estado de alerta reduz a quantidade de água que a Sabesp pode retirar do manancial. Mas, segundo a Sabesp, a Companhia está retirando atualmente 22 m³/s, já inferior ao limite máximo autorizado de 27m³/s, o que é possível “graças à integração com os demais sistemas”.

Faixas de armazenamento do Sistema Cantareira — Foto: Elcio Horiuchi/g1

Faixas de armazenamento do Sistema Cantareira — Foto: Elcio Horiuchi/g1

Em nota, a Sabesp afirma que nesta sexta-feira (1º), o Sistema Integrado opera com 54,5% da capacidade, “nível similar, por exemplo, aos 52,% de 2021, quando não houve problemas no abastecimento da região metropolitana”.

O baixo volume de armazenamento preocupa especialistas. Para efeito de comparação, no mesmo dia 1º de julho de 2013, ano anterior à crise hídrica, o Cantareira operava com 56,3% de seu armazenamento. A comparação é importante porque no ano seguinte, 2014, a capital paulista teve uma séria crise de abastecimento.

Em julho de 2014, quando houve a crise hídrica, o Sistema Cantareira chegou a zero. Abaixo dele, havia o volume morto, que não foi projetado, originalmente, para uso. Trata-se de uma reserva com 480 bilhões de litros de água situada abaixo das comportas das represas do Cantareira. A Sabesp passou a operar bombeando água do volume morto. Até então, essa água nunca tinha sido usada para atender a população.

Falta água nas casas

A analista de marketing Marcela González, 30 anos, sentiu o racionamento de água aumentar na última semana. Moradora do bairro do Brooklin, na Zona Sul da capital, ela afirma que desde que se mudou para o local, em fevereiro de 2021, a água acaba entre 20h e 21h, mas nessa semana acabou também durante o dia.

“Às vezes acaba às 19h também de forma aleatória, sem aviso. Essa semana já rolou umas duas vezes ao longo do dia, na terça e quarta, por cerca de duas horas. Afeta mais quanto eles cortam mais cedo, antes das 20h, ou no meio do dia do nada. Aqui em casa tem cachorro e não dá para manter o mínimo de limpeza se eles suspendem o fornecimento fora do que a gente já está acostumado. Mas no dia a dia, quando cortam mais tarde, não costuma nos afetar tanto porque acabamos nos adequando aos horários.”

O problema é que os períodos de racionamento podem ser cada vez maiores e mais frequentes se a média baixa de chuvas se mantiver. De janeiro a junho deste ano choveu 75% do esperado pela média histórica, ou seja, um déficit de 25% de chuvas, de acordo com análise de Côrtes.

“À exceção de janeiro, as chuvas ficaram abaixo da média em todos os demais meses no primeiro semestre. Isso mostra que os prognósticos climáticos estavam corretos ao apontar que teríamos um período de redução de chuvas durante o verão e também no outono. Isso coloca o Cantareira em uma situação de alerta com o agravante que o prognóstico de redução de chuvas se mantém para o segundo semestre.”

De acordo com o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), se as chuvas se mantiverem 25% abaixo da média, o Cantareira chegará a setembro com 26% da sua capacidade, conforme mostra o gráfico a seguir:

“Tomando como base que entre janeiro e junho, em média, houve uma redução de 25% no volume de chuvas no Sistema Cantareira, as simulações do Cemaden apontam para a possibilidade de chegarmos no final de setembro com apenas 26% do volume de água nesse sistema”, afirma Côrtes.

Prognóstico do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) apnta para uma reserva de 26% do Cantareira em setembro — Foto: Reprodução/Cemaden

Prognóstico do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) apnta para uma reserva de 26% do Cantareira em setembro — Foto: Reprodução/Cemaden

O que diz a Sabesp

A Sabesp informa que o Sistema Cantareira entra no mês de julho na Faixa 3 – Alerta, conforme as regras da outorga (Resolução Conjunta ANA/DAEE 925/2017). A situação não prevê alteração na operação. A Companhia está retirando atualmente 22 m³/s, inferior ao limite máximo de 27 m³/s autorizado, o que é possível graças à integração com os demais sistemas.

A Sabesp esclarece que não há risco de desabastecimento neste momento na Região Metropolitana de São Paulo, mas orienta o uso consciente da água, em qualquer época e em todos os municípios em que opera.

A Companhia reforça que o Cantareira faz parte do Sistema Integrado Metropolitano, que é composto ainda por outros 6 mananciais (Alto Tietê, Guarapiranga, Cotia, Rio Grande, Rio Claro e São Lourenço). Desde a crise hídrica, os investimentos da Companhia tornaram o Sistema Integrado mais robusto e flexível (sendo possível abastecer áreas diferentes com mais de um sistema), com destaque para a implantação do novo sistema São Lourenço e para a interligação da bacia do Paraíba do Sul com o Cantareira.

Neste momento, o Sistema Integrado opera com 54,5% da capacidade, nível similar, por exemplo, aos 52,0% de 2021, quando não houve problemas no abastecimento da Região Metropolitana.

Ao longo dos anos, a Sabesp vem atuando nas seguintes frentes, visando à segurança hídrica:

  • Ampliação da infraestrutura, com destaque para a interligação Jaguari-Atibainha (que traz água da bacia do Rio Paraíba do Sul para o Cantareira) e o novo sistema produtor São Lourenço, ambos entregues em 2018.
  • Redução de perdas na distribuição, que se refletiu na queda do índice de perdas totais em sua área atendida de 41% em 2004 para 27,9% em 2021, abaixo da média nacional: 40,1% (SNIS; 2020).
  • Gestão de demanda noturna, prática recomendada internacionalmente: quando há menos consumo, reduz-se a pressão nas redes a fim de evitar perdas por vazamentos e rompimentos; quando o uso é retomado, a pressão é reajustada. A atual operação na RMSP ocorre das 21h às 5h, exceto em setores onde não há viabilidade técnica. Mais informações no site.

Fonte: Bárbara Muniz Vieira, g1 SP — São Paulo

https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2022/07/02/cantareira-volta-para-estado-de-alerta-com-armazenamento-abaixo-de-40percent-especialista-diz-que-ja-estamos-em-crise.ghtml